Para um interlocutor da Davati, militar afirmou que Bolsonaro estaria exigindo o envio de um certificado, o “SGS”, para avançar nas tratativas
Jornal GGN – Mensagens no celular do policial militar Luiz Paulo Dominghetti apontam que Jair Bolsonaro (sem partido) participou pessoalmente da negociação para aquisição de 400 mil doses da vacina contra a Covid-19 Oxford/AstraZeneca com a empresa Davati Medical Supply. As informações são do site O Antagonista.
O aparelho de Dominghetti foi apreendido pela Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) da Pandemia. O cabo militar, que atuava como representante da Davati, acusou o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, de cobrar propina de US$ 1 por cada dose de imunizante.
Nas mensagens, Dominghetti cita Bolsonaro para um interlocutor identificado como Rafael Compra Deskartpak. No texto, o militar afirmou que Bolsonaro estaria exigindo o envio do SGS, um certificado que garante que o produto – a vacina – passou por todas as etapas dos processos exigidos por órgãos reguladores. “Manda o SGS. Urgente. O Bolsonaro está pedindo. Agora”.
“Dominghetti, agora são 5 da manhã no Texas. E outra! Jamais será enviado uma SGS sem contrato assinado”, respondeu Rafael.
Dominghetti, então, cita o reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), entidade que chegou a fazer uma oferta paralela de vacinas ao Ministério da Saúde e prefeituras. O reverendo foi convocado para depor na CPI nesta quarta-feira, 14, mas apresentou atestado médico para não comparecer à sessão.
“Vamo alinhar com reverendo”, enviou Dominguette, que – mais tarde – voltou a pressionar Rafael para o envio do documento e a citar Bolsonaro.“O reverendo está em uma situação difícil neste momento. Ofereceu a vacina no ministério. Presidente chamou ele lá”, escreveu o policial militar. “O presidente tá apertando o reverendo. Ele ta ganhando tempo. Tem um pessoal da presidência lá para buscar o reverendo”.
Ainda insistindo, Dominguetti mandou um áudio para Rafael. “As tratativas foram diferentes, ontem foram diferentes, agora cedo diferente e agora que o presidente manda buscar ele lá, vai se mudar. A gente tem que achar uma maneira de se resolver isso nos próximos minutos aí, com o Herman [presidente da Davati nos Estados Unido] ou por o Herman pra conversar com ele, porque essa SGS é o que vai fazer o presidente tomar essa decisão. Porque até agora a Davati não falou que tem carga nenhuma. E a situação do reverendo tá muito difícil nesse momento”, disse.
No dia das trocas de mensagens, 8 de março, o reverendo Amilton Gomes de Paula ainda escreveu uma carta ao CEO da Davati nos Estados Unidos,pedindo com a máxima urgência uma cópia do certificado “SGS”. No celular apreendido com Dominguetti, há uma imagem da carta.
Em depoimento à CPI, Dominguetti ainda citou uma outra reunião com Bolsonaro, que também teria sido articulada por Amilton Gomes de Paula, fora da agenda oficial.
PUBLICADO PELO JORNAL GGN” ( BRASIL)