“É só tirar a Dilma que a confiança volta”. Pois é. Lá se vão muitos anos e a promessa feita pelas forças que golpearam a democracia no Brasil não se cumpre. Dilma terminou seu primeiro mandato com a menor taxa de desemprego da história do Brasil (4,3%) e, desde que o golpe começou a ser colocado em marcha, já em 2015, as condições econômicas do País só se deterioraram.
Os dados econômicos divulgados nesta semana são devastadores. Segundo o Dieese, o desemprego bateu 16% na Grande São Paulo. Em março, houve perda líquida de 43 mil empregos no País, segundos dados do Ministério do Trabalho, quando a expectativa era de oferta maior de vagas. Hoje, o Brasil tem 13 milhões de desempregados e 37 milhões de pessoas subempregadas, vivendo de bicos aqui e acolá.
A inflação, que era o único indicador que se mantinha sob controle, saiu dos trilhos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que mede a prévia da inflação oficial, ficou em 0,72% em abril deste ano. A taxa é superior às registradas em março deste ano (0,54%) e em abril do ano passado (0,21%). É também a maior taxa para o mês desde 2015 (1,07%). Os principais responsáveis pela inflação da prévia de abril foram os transportes, que tiveram alta de preços de 1,31%, puxada pelos combustíveis (com alta de 3%), em especial, a gasolina (3,22%). Ou seja: a política insana de preços da Petrobrás, que no ano passado produziu a greve dos caminhoneiros, neste ano coloca o Brasil numa situação de “estagflação” – uma economia parada, sem demanda, e ainda assim com inflação.
Se a economia não cresce, não gera empregos e os preços sobem, qual a consequência? Obviamente o consumidor trava suas despesas. Por isso mesmo, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), caiu 1,5 ponto de março para abril. Com o resultado, o indicador recuou para 89,5 pontos, em uma escala de zero a 200, o menor patamar desde outubro do ano passado (85,4 pontos). É a terceira queda mensal consecutiva do indicador, que acumula perda de 7,1 pontos no período.
É uma destruição econômica sem precedentes e a grande questão que se coloca é: qual a política econômica de Paulo Guedes? Ninguém saberá responder, pelo simples motivo de que não há uma política econômica, mas apenas a fake news de que o Brasil crescerá como um tigre asiático se a previdência pública for transferida para o setor privado. Quais as contas? Ah, isso não podemos mostrar. O governo federal, como todos sabem, esconde os “estudos” que fez sobre a questão previdenciária.
Em outros momentos da nossa história, quando a política econômica fracassava rotundamente, como acontece agora, empresários, sindicalistas e editorialistas estariam gritando por uma mudança de rumo. Mas não. O que prevalece é um gigantesco silêncio diante do derretimento da economia brasileira. Um dos motivos é financeirização da imprensa brasileira, que, controlada por seus credores, passou a vocalizar o pensamento único em torno do mantra “previdência ou caos”. Mas onde estão os empresários? Será que todos são idiotas a ponto de acreditar que uma economia sobrevive apenas com a redução dos custos do trabalho?
O Brasil necessita urgentemente de um grande pacto nacional pelo desenvolvimento. As propostas não virão de Paulo Guedes, que em mais de cem dias de governo praticamente não pronunciou as palavras crescimento e emprego, nem de Jair Bolsonaro, que se preocupa mais com as intrigas em torno de seu vice Hamilton Mourão. A realidade atual é nua e crua: a economia derrete e o Brasil não tem governo. Como corolário dessa situação, o dólar acaba de bater quatro reais.
LEONARDO ATTUCH ” BLOG 247″ ( BRASIL)