Se não estivéssemos na beira do precipício político, com a democracia pedindo socorro e o país sem rumo, a pergunta que todos estariam se fazendo hoje era: com que direito o presidente da República entra em um avião de carreira, já que não iria viajar, com equipes de segurança e de imprensa, pagas com dinheiro público? Tudo para reunir meia dúzia de aspones e fazer uma campanha eleitoral extemporânea, em meio a uma pandemia que, nesta semana que entra, completará 500 mil mortes em todo o país.
O ato absurdo e irresponsável aconteceu nesta sexta-feira, no Espírito Santo, onde o presidente foi flanar, mais uma vez, ignorando o morticínio de brasileiros que tem raízes no seu governo e no que ele deixou de fazer para contê-lo. Sem máscaras, o que contraria uma lei estadual, o presidente e seus apoiadores fizeram uma campanha acintosa no aeroporto local. Promoveram aglomeração, xingaram adversários políticos e gargalharam muito como se no país que eles estão arregaçando houvesse, hoje, motivos para rir.
Onde estava a direção da Azul Linhas Aéreas que permitiu que um elemento estranho ao voo perturbasse a tranquilidade dos passageiros – pelo menos daqueles não entraram na onda daquele ato insano? A empresa deveria ter coibido a entrada ou, pela impossibilidade de peitar o “chefe da nação”, ter acionado a Polícia Federal, a quem cabe lidar com perturbadores e fora-da-lei que atrapalham a paz dos aeroportos. E o que fará a empresa aérea com sua tripulação que, em vez de reagir e proteger seus passageiros, foram tirar selfies com a comitiva presidencial, ora em momento de atividade no mínimo suspeita?
Onde está o consórcio Aeroportos do Sudeste do Brasil (Aseb), do grupo suíço Zurich Airport, responsável, desde março de 2020, pelo aeroporto de Vitória? A unidade, a partir de agora, fica sujeita a todo tipo de invasão por parte de grupos políticos que quiserem fazer atos como o que se viu nesta triste sexta-feira.
A atitude do presidente da República, que não respeita os mortos da COVID-19, deve ser motivo de investigação e deve ser denunciada com rigor. Ocorreu um dia depois de ele ter tentado aumentar a crise sanitária ao contar – rindo, como sempre – que seu ministro da Saúde, um “tal de Queiroga”, iria abolir a máscara para quem se vacinou ou se infectou com o vírus.
O ato danoso e nocivo à saúde pública, praticado pelo presidente da República, mostra que ele faz o que bem entende, sem se preocupar com críticas ou punições. Que ele age como quem encontra-se com um golpe de estado em marcha. Como se a lei não significasse absolutamente nada. Ou fosse, no máximo, um calhamaço inútil que – logo, logo – ele terá debaixo do braço. Ou sob os seus pés.
GILVANDRO FILHO ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)