Andei participando de um grupo de WhatsApp, com membros de diversas linhas políticas. Dentre eles, os que atacam Lula de maneira superficial. Mandei esse texto, que ajuda a entender um pouco a natureza de Lula.
Lula merecia uma discussão mais aprofundada de um grupo tão seleto. Ortega y Gasset dividia os governantes em três níveis: o intelectual, o pusilânime e o Estadista. Estadista são os megalomaníacos, que pretendem modificar um país. Dizia ele que o intelectual é bom para desenvolver argumentos para justificar a não-ação. Vale para FHC. Pusilânime é aquele que se aproxima do homem normal. Itamar.
Estadista é o sujeito que pretender mudar um país. É megalomaníaco – Napoleão queria ser Napoleão, ironiza ele -, busca todos os meios para atingir seu objetivo e sua grande ambição é conseguir a mudança. Justamente por isso eles têm grandes virtudes e grandes defeitos. Dizia Ortega: sua único compromisso é com a mudança do país. De certo modo, Collor se encaixava nisso.
Estadistas não podem ser analisados da ótica do homem comum. Sua dimensão é tão desproporcional em relação ao chamado homem comum que, muitas vezes, para analisá-los, se recorre às formas de julgamento dos homens comuns: : é bêbado, é malandro, é desonesto, é populista. Afinal, homens comuns tem ambição de enriquecimento pessoal, carreira etc, enquanto estadistas ambicionam algo muito amor: transformar países.
Lula conseguiu feitos inéditos: tornou-se o mandatário brasileiro de maior projeção internacional da história, teve papel ativo na diplomacia comercial e, depois, nas articulação ante a crise de 2008, reduziu a pobreza social e regional, montou políticas sociais vitoriosas, venceu a grande crise de 2008. Por outro lado, permitiu abusos enormes na diretoria da Petrobras, não atacou em nenhum momento as disparidades fiscais brasileiras, não tocou nas políticas monetária e fiscal, não deu soluções para a questão fiscal, permitiu a desindustrialização, aceitou favores depois que saiu do governo – embora nenhum dos favores implicasse em enriquecimento pessoal.
Em suma, gostar ou odiar Lula é fácil. Explicá-lo é complicado.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)