Os holofotes de todo o planeta estão permanentemente focados, desde o final do século passado, nas imensas florestas do Norte do Brasil – que incluem, na chamada Amazônia legal, nove estados: Amazonas, Pará, Amapá, Roraima, Rondônia, Acre, Tocantins, Mato Grosso e grandes áreas do Maranhão.
Alguns países, como a escandinava Noruega, do Rei Haroldo V, de 83 anos, ao Norte da Europa, chegaram a propor a ‘internacionalização’ da Amazônia para a preservação de suas selvas, consideradas, por muitos ativistas, o ‘pulmão’ do mundo.
As pressões sobre o Brasil aumentaram, a partir de 2018, com a eleição do Presidente da República, o ex-Capitão do Exército, Jair Bolsonaro, nascido há 66 anos no interior de São Paulo, acusado de favorecer o expansionismo do agronegócio.
A Amazônia voltaria, tristemente, às manchetes em todos os continentes na pandemia do Covid-19, quando Manaus, a capital do Estado do Amazonas, tornou-se o epicentro do maldito vírus no hemisfério sul. Bolsonaro também é responsabilizado por discordar das medidas de ‘lockdown’ adotadas em diversas nações, a começar pela própria China, berço do coronavírus, e por vários estados brasileiros – iniciado em São Paulo e ganhando adesão, principalmente, na Bahia e no Ceará.
Poucos levam em conta, cá e, sobretudo, na Europa, é que, a rigor, a Amazônia, não era destinada a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas, lavrado, com a chancela do então Papa Alexandre VI (1431 – 1503), da família espanhola valenciana dos Borgia.
Quem acabaria por anexar toda a Amazônia ao futuro Brasil foi um dos mais valorosos bandeirantes enviados pela Coroa de Lisboa ao enorme Portugal do Novo Mundo, Pedro Teixeira (1585 – 1641), explorador natural de Cantanhede, no Distrito de Coimbra. Destemido, com admirável capacidade de liderança, participou, inclusive, da fundação de Belém, no Pará, e comandou numerosas lutas contra os invasores franceses, holandeses e ingleses na colônia lusitana.
Teixeira navegaria de Gurupá, perto de Belém, até Quito, capital do Equador, ao Norte da América do Sul, em 1637, desbravando para Portugal as florestas tropicais que seriam incorporadas, definitivamente, à Sereníssima Casa de Bragança, em 1750, no célebre Tratado de Madri.
Mas a Coroa de Espanha, nas negociações do novo acordo, não permitiu o acesso ao Oceano Pacífico – através de um corredor aberto pelo conquistador cantanhedense no território equatoriano. Conforme relata, aliás, o perspicaz estudioso lisboeta, António de Bacelar Carrelhas, 83 anos, na obra “Descida do Amazonas – Caminho de Pedro Teixeira”, publicada em 2017, na qual reviveu e narrou a epopeia de seu compatriota.
Ilustra a coluna a curiosa foto de Carrelhas durante o périplo que fez seguindo o roteiro de Teixeira. “Eram 45 canoas de grande porte, com 20 remeiros cada uma, mais 70 soldados portugueses e 1200 índios remeiros e flecheiros, muitos foram com as famílias, somando cerca de duas mil pessoas” – escreveu Carrelhas, com quem tive o prazer de almoçar, quase à mesma semana da explosão no Brasil da pandemia, em cinco de março de 2020, na Casa de Portugal, em São Paulo.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador