Europa e Eua começam recuperação
Brasil engatinha para taxar riqueza
Medida pode tirar incentivos de empresas
A economia americana cresceu 1,6% no primeiro trimestre deste ano, um resultado melhor que o da Europa, onde o Produto Interno Bruto caiu 0,6% no mesmo período. Mesmo na economia europeia, no entanto, há sinais de que, com o aprendizado da convivência com o coronavírus e o avanço da vacinação, aos poucos a vida vai retomando seu ritmo, com boas perspectivas ainda para 2021.
Fica a ressalva de que essa recuperação tem se dado às custas de pesados gastos do Estado. Isso significa um aumento violento da dívida dos governos nacionais, não apenas nos Estados Unidos como em todo o mundo. Essa é uma conta a ser paga lá na frente, e que deixa um enigma: de onde tirar o dinheiro para tapar o buraco?
O presidente americano, Joe Biden, já anunciou sua intenção de taxar os mais ricos, mas, numa economia onde o capital vai de um lugar ao outro ao toque de um botão, essa não é uma tarefa simples.
Se os ricos nunca foram tão ricos, e os pobres nunca foram tantos, nem tão pobres, não é por acaso. Mudar isso depende de um concerto geral –uma espécie de acordo mundial de tarifas e impostos, que impeça a fuga do capital.
Em 2008, depois do crash da pirâmide financeira iniciada nos Estados Unidos, e que derrubou em avalanche a economia mundial, houve uma tentativa de acordo nessa direção, sob a batuta da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Como era de se esperar, esse acordo parou na babel de interesses de cada país. A única conclusão a que se chegou é que vendas realizadas pela internet devem ser taxadas no país de origem da compra, isto é, do lugar de onde sai o dinheiro.
O problema maior, o da taxação do capital, ficou para depois. E depois é agora, quando aumenta a consciência de que ninguém resolverá a crise sozinho.
O Brasil está ainda muito mais distante de uma solução econômica, por diversos motivos. A demora na vacinação, que leva a o surgimento de variantes do vírus, leva mais longe a tragédia nacional. A marca de mais de 400 mil mortos pela pandemia fala bem da nossa capacidade de aumentar as crises, em vez de minorá-las.
Outra marca assustadora, a dos 14 milhões de desempregados, é apenas a ponta do iceberg, num país onde quase metade dos trabalhadores atua no mercado informal, que, como o próprio nome diz, é subemprego, derruba a renda e não paga impostos.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, olha para o caixa das empresas, único lugar onde vê recursos disponíveis sobre os quais avançar. Arma uma reforma tributária, que, se passar pelo Congresso, vai colocar o governo contra aqueles que o elegeram –e a quem se prometeu deixar de fora das contas por pagar, herdadas do passado.
Com seu projeto, Guedes pode sobretudo desanimar ainda mais o setor produtivo, que não tem a facilidade de escapar aos impostos do meio financeiro, mas pode, simplesmente, jogar a toalha de vez num país já em franco processo de desindustrialização.
Em resumo, é a historinha infantil dos três porquinhos: quem tem casa de alvenaria perde no máximo o telhado; já quem tem a choupana de palha vê tudo desabar a um simples sopro, quanto mais um furacão.
THALES GUARACY ” BLOG PODER 360″ ( BRASIL)