O Truco é um jogo de cartas muito comum no interior do País, sobretudo em Minas e Goiás. Sua origem é imprecisa, possivelmente moura, mas chegou ao Brasil pelas mãos dos imigrantes espanhóis, italianos e portugueses. Usualmente jogado, no Brasil, com baralho francês, o Truco é um jogo de “vaza”. Ou seja: é um método de jogos de cartas onde cada jogador, em rodadas diferentes, adiciona uma ou mais cartas à mesa formando, assim, uma “vaza”. Cada carta define uma pontuação que indicará o vencedor daquele turno.
Mas o que caracteriza e faz a distinção do Truco é seu emocionante sistema de apostas. Ao contrário do pôquer – grave e silencioso – o Truco é barulhento, cheio de gritos, gestos inusitados, quase uma algaravia onde o blefe e o engano dão o tom do certame.
O “governo” de Jair Bolsonaro – sempre acumpliciado com seus rebentos enrolados na Justiça – parece querer transformar o País e suas instituições numa imensa mesa de Truco, possivelmente numa varanda miliciana. Pelo menos tem sido assim desde o início dessa macabra gestão na sua assombrosa intimidade com a morte. No início foram os destemperos e o aparelhamento da polícia federal e dos órgãos de fiscalização, para proteger o seu filho 01, o senador Flávio, que responde ao já famoso processo das “rachadinhas”.
Depois o seu estímulo e presença nas manifestações que pediam uma intervenção militar e o fechamento do STF. Com a pandemia, seu foco foi na promoção da expansão do vírus e na sua indiferença com as milhares de mortes de brasileiros. Boicotou as vacinas e o distanciamento social. De certa forma propugnou pela incerta e perigosa imunidade de rebanho. O resultado é o que estamos vendo agora: mais de 3 mil mortes por dia, o colapso do sistema de saúde e mais de 300 mil brasileiros mortos desde o início da pandemia. Um horror! Em todos os momentos Bolsonaro, como na mesa de Truco, brandia o seu ZAP na manga – jamais apresentado – mas que sugeria ser as armas, a interdição das instituições, a violência e, no limite, os tanques, os fuzis, as metralhadoras e os generais do Exército brasileiro.
Apesar do silêncio cúmplice do Congresso, das idas e vindas do STF, do murmúrio intramuros de parte dos empresários, de banqueiros e do agronegócio, Bolsonaro, nos últimos dois anos, inundou o País com as advertências sonoras das arruaças dos seus coturnos. Quase sempre numa linguagem tartamuda de porteiro de bordel, Jair, dando voltas na mesa do “Truco” em que ele reduziu a Nação, vociferava suas ameaças ao País e suas instituições. Mas os ventos da nau desgovernada chamada Brasil começaram a mudar no início de março. Numa entrevista ao Jornal o Estado de São Paulo, o senador Tasso Jereissati deu a senha: “precisamos deter esse homem”, ponderou Jereissati.
Desde então o cenário começou a mudar até o manifesto dos economistas, empresários e banqueiros, os encontros dos presidentes da Câmara e do Senado com a “elite” paulista e o discurso do Arthur Lira, presidente da Câmara, advertindo que iria apertar o “botão da luz amarela”.
Num átimo, Bolsonaro substituiu o ministro da Saúde, passou a defender as vacinas e despachou o alucinado ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Acuado em seu labirinto, Bolsonaro fez a sua maior aposta. Demitiu o ministro da Defesa, Fernando Azevedo Silva e determinou a exoneração dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Quis dar uma demonstração de força e, pelo que se entende, quer trazer, formalmente, as forças armadas para o seu projeto de poder. As repercussões dessa crise artificial na estrutura militar do País, antes de fortalecer, parece ter isolado ainda mais o Palácio do Planalto. O processo ainda está em curso e o presidente da República ainda não desistiu de mergulhar o País no caos, na violência e na desordem com o tempero sinistro da covid-19. A conferir!
JORGE HENRIQUE CARTAXO ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)