Diálogos protocolados nesta segunda-feira (15) pela defesa do ex-presidente Lula, periciados pela operação Spoofing, da Polícia Federal, mostram que os procuradores da Lava Jato sabiam que a relação com o ex-juiz Sergio Moro poderia trazer problemas no futuro.
Sob o codinome de “Rússia”, “Russo”, “Russa” e “Old Russian”, Moro é citado em várias conversas entre membros da força-tarefa.
Numa troca de mensagens sobre o caso do suposto imóvel para o Instituto Lula, em 17 de abril de 2017, os membros da força-tarefa discutiam a decisão de Moro de exigir a presença do ex-presidente em depoimentos de 87 testemunhas de defesa, o que foi encarado como um “troco” do então juiz.
O procurador Orlando Martello Júnior, então, faz um alerta a seus colegas sobre a ilegalidade da conduta de Moro: “Vai dar merda!”.
Mesmo assim, Lula e Moro ficaram frente a frente no dia 11 de maio daquele ano, num depoimento marcado por diálogos tensos, algumas vezes com ataques explícitos.
“Como eu considero esse processo ilegítimo e a denúncia uma farsa, estou aqui em respeito à lei, à Constituição, mas com muitas ressalvas aos procuradores da Lava Jato”, disse o ex-presidente na ocasião.
A defesa do petista afirma que os procuradores “nada fizeram” para conter Sergio Moro porque “tinham um pacto” com ele.
A procuradora Laura Tessler chega a reconhecer que a decisão sobre o depoimento “não tem previsão legal nenhuma” mas, numa tentativa de amenizar a situação, afirma que “não dá para negar que Moro é criativo”.
Segundo a petição, “o ‘Russo’ – codinome que adaptam a seus sucessores e à própria Vara Criminal -, conscientemente ou não, remetem a Lava Jato e seu chefe às condutas autoritárias dos célebres Processos de Moscou, ocorridos no final da década de 1930”.
Os advogados ressaltam que os Processos de Moscou eram conduzidos pelo procurador-geral Andrey Vichinsky, que é conhecido pela frase “Entregue-me um homem e lhe encontrarei um crime”.
DAVI NOGUEIRA ” DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO” ( BRASIL)