Há duas semanas, publiquei aqui no 247 um artigo em que expliquei as verdadeiras causas do golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. O motivo central foi a questão do petróleo. Sem Dilma, o PSDB foi capaz de fazer o que pretendia realizar com Aécio Neves, desmantelando a Petrobrás, empresa que era o carro-chefe do desenvolvimento nacional, e vendendo-a aos pedaços. Não por acaso, a primeira medida do governo golpista de Michel Temer foi aprovar o projeto do senador tucano José Serra (PSDB-SP) para abrir a exploração do petróleo a empresas internacionais e também não foi acidental o fato de o próprio Fernando Henrique Cardoso ter escolhido a dedo seu braço direito e homem de confiança Pedro Parente para comandar a estatal. De forma não declarada, a Petrobrás começou a se converter em “Petrobrax”, projeto acalentado por FHC em seu segundo mandato, já a partir da posse de Temer.
Pedro Parente deu início a esse desmonte, liquidando ativos da Petrobrás em vários setores. Vendeu gasodutos, paralisou investimentos e entregou campos de petróleo a empresas internacionais, que talvez tenham sido as principais financiadoras do golpe de 2016. Além disso, Parente mudou a política de preços da Petrobrás. Se, com Dilma, os reajustes eram definidos a cada três meses, também com base no mercado internacional, para não transferir choques temporários de preços à economia brasileira, no governo Temer-FHC a política de Parente passou a ser de reajustes diários. Enquanto o dólar e o petróleo estavam baratos, os efeitos do desmonte não foram sentidos. No entanto, bastou uma mudança nos preços internacionais para que os brasileiros sentissem que estavam sendo esfolados e o resultado foi a greve dos caminhoneiros, de 2017.
Desde então, o governo brasileiro vem negando a realidade e tentando iludir os caminhoneiros com subsídios disfarçados. A classe média que protestava contra a gasolina cara desapareceu. E os brasileiros que cozinhavam com gás de cozinha voltaram ao fogão de lenha. Tudo isso é consequência da política de preços destrutiva implantada pelo PSDB na Petrobrás, após a derrubada de Dilma para agradar as chamadas “forças de mercado”, que na verdade foram os grandes patrocinadores da Lava Jato, da ruptura democrática no Brasil e da ascensão do próprio bolsonarismo.
Curiosamente, Jair Bolsonaro hoje é um refém das forças que deram o golpe de 2016. Como presidente acidental, ele certamente gostaria de se reeleger em 2022. No entanto, deve fidelidade aos que o colocaram no poder e não tem coragem de enfrentar a raiz dos problemas. Ontem, em sua live, ao comentar um novo aumento no preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, disse que “algo vai acontecer” na Petrobrás. No entanto, em vez de fazer o certo, que seria demitir o presidente Roberto Castello Branco, paralisar a venda de refinarias e fazer com que a Petrobrás volte a ser uma empresa integrada de energia, como, aliás, são as grandes petroleiras internacionais, ele sinalizou que pretende mexer no ICMS dos combustíveis, o que irá provocar queda na arrecadação tributária dos governos estaduais e acentuar os conflitos federativos.
No dia de ontem, entrevistei o professor Gilberto Bercovici, da Universidade de São Paulo, que disse que toda a privatização e todo o desmonte da Petrobrás podem ser revertidos caso haja vontade política. Ontem, também publicamos que a Lava Jato comemorou a deposição da ex-presidente Dilma Rousseff. Se o grupo que “combatia a corrupção” festejou a derrubada de uma mulher honesta e a ascensão dos políticos mais corruptos da história do Brasil, o que os movia talvez também fosse a entrega do petróleo. E foi esta entrega do petróleo, consequência da Lava Jato, que mudou os preços dos combustíveis no Brasil a partir da chegada do PSDB ao comando da Petrobrás.
LEONARDO ATTUCH ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)