
- Mais arguto dos cronistas esportivos brasileiros da geração que emergiu neste século, o paulista Paulo Vinicius Coelho, o PVC, nascido há 51 anos, em São Bernardo do Campo, no ABC da Grande São Paulo, sacou uma preciosa ‘pérola’ na edição do diário paulistano Agora, ao analisar, no dia 31 de janeiro último, a vitória do Palmeiras, comandado pelo português Abel Ferreira, na final da Taça Libertadores de 2020, ao derrotar o Santos por 1 a 0, no Maracanã.
- Os minutos derradeiros da competição, definida pela Conmebol como La Gloria Eterna, tiveram um roteiro épico, segundo PVC, e apenas o fim fora imprevisível em uma partida castigada sob o sol carioca. “Só existem duas estações no Rio de Janeiro: o verão e o inferno” – sentenciou. Um infernal calor tropical que, com efeito, somente os lusitanos parecem conseguir superar. São calejados pelos ancestrais que povoaram os trópicos da América do Sul e deram, de fato, mundos ao mundo, quando revelaram à Europa as maravilhas das Áfricas e de imensas nações asiáticas – como a Índia, Paquistão e Bangladesh, para além do Ceilão (atual Sri Lanka), Malásia, China, Japão e Indonésia.
- Aconteceu, assim, em 2020, com Jorge Jesus, técnico português ganhador da Libertadores à frente do Flamengo, e, agora, com o compatriota Abel Ferreira como timoneiro do legendário Palestra Italia. Indiscutivelmente, o Flamengo, de Jorge Jesus, de 66 anos, natural da Amadora, região da Grande Lisboa, praticava um jogo mais fascinante do que os palmeirenses de Abel Ferreira, de 42 anos, nascido em Penafiel, no Distrito do Porto. Mas ambos, com todos os méritos, acabariam dando aos treinadores portugueses o invejável bicampeonato do histórico torneio, iniciado em 1960, e vencido até então por um único europeu – o croata Mirko Jozic, em 1991, pelo chileno Colo-Colo, de Santiago. Jesus e Ferreira dão, a rigor, a volta por cima da ‘bola quadrada’ – como no século XX muitos comentaristas esportivos cá se referiam, com desprezo, ao futebol jogado na Metrópole.
- Não haviam obtido sucesso por aqui os poucos técnicos portugueses que arriscaram tentar a sorte deste lado do Atlântico. Dentre eles o notável estudioso Cândido de Oliveira (1896 – 1958), fundador do diário lisboeta A Bola, que treinou o Flamengo em 1950, num ano especialmente melancólico do rubro-negro, e o introvertido Ernesto Santos (1911 – 1990), com passagens pelo Vasco da Gama, em 1946, e no Flamengo, em 1947. Ele alcançaria êxito como ‘olheiro’ da Seleção Brasileira em quatro mundiais – na Suécia, em 1958, com Vicente Feola, no Chile, em 1962, com Aimoré Moreira, na Inglaterra, em 1966, novamente com Feola, e no México, em 1970, com Zagallo.
- Foi o ‘espião’ oficial da antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD) dos três primeiros títulos mundiais, Pesquisava os adversários, taticamente, e informava tudo ao coach nacional. Santos também era o encarregado de descobrir e sugerir convocados ao escrete. No mesmo período, brilhavam em Portugal vários treinadores brasileiros.
- O maior deles, em todos os tempos, foi, sem dúvida, o carioca Oto Glória (1917 – 1986), formado no Vasco da Gama, que marcou época, entre os anos 1950 e 1960, nos três grandes clubes alfacinhas, Sporting, Os Belenenses e Benfica, bem como no tripeiro F.C. do Porto. Sua consagração viria na Copa do Mundo de 1966, como técnico da Seleção das Cinco Quinas, quando os campeões da ‘bola quadrada’ chegaram em terceiro lugar – depois de eliminar os ‘mestres’ brasileiros liderados por Pelé. Personagens e histórias que, como exalta o hino do querido Vasco da Gama, só reforçam o traço de união Brasil-Portugal.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador