Na maior cara de pau, Bolsonaro disse que se o país tivesse seguido a sua receita de medicamentos pelo menos 140 mil pessoas não teriam morrido. Puro deboche com o sofrimento alheio.
Na sua gaiata live nessa quinta-feira (28) nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro repetiu o show de misturar algumas informações sobre seu governo com ataques a adversários, falsidades, piadas preconceituosas e, o que é pior, mentiras criminosas. Voltou a defender como eficazes no combate a Covid-19 medicamentos como o vermífugo Ivermectina e a cloroquina, remédio para a malária, tidos como ineficazes em estudos científicos mundo afora. Até aí foi a baboseira de sempre. O que disse depois foi muito mais grave.Publicidade
O leviano presidente do Brasil teve a cara de pau de afirmar que se seus conselhos de tratamento precoce tivessem sido seguido no país das mais de 200 mil mortes pelo novo coronavírus pelos menos 140 mil teriam sido evitadas. Como assim? Com base em quê? Não se deu sequer ao trabalho de tentar justificar. Comportamento de um moleque, nunca de um presidente da República.
Se ele tivesse um mínimo de empatia ou de algum interesse além do se dar bem do seu clã familiar, teria ouvido o depoimento de médicos em Manaus e em outras cidades que, no desespero, apostaram nesse tal tratamento precoce e se frustraram com as mortes de seus pacientes. Nos estudos científicos e no sufoco de quem está na linha de frente não funcionam. Infelizmente.
Mas o custo desses persistentes delírios presidenciais é cada vez maior. O seu pau mandado no Ministério da Saúde, o general Eduardo Pazuello, se acha no direito, em meio a um planeta inteiro que corre atrás de vacinas, a adiar para maio se decide ou não comprar do instituto Butantan um novo lote de 54 milhões de doses da Coronavac, como se estivesse chovendo vacinas no Brasil.
Além de um desrespeito com as pessoas que anseiam voltar a vida com um mínimo de normalidade, é mais uma picuinha para agradar o chefe em sua guerrinha política contra o governador João Doria. Inacreditável. Sabem que não vai dar certo mas sentem prazer nesse joguinho que causa tanta angústia no país. Inacreditável.
Depois do vexame criminoso com tantas mortes por asfixia na Amazônia, por negligência na compra de oxigênio, o mínimo que se esperava é que Bolsonaro e seu time militar na Saúde reduzisse o tamanho do salto do coturno. Mas eles mantêm a mesma postura prepotente, avaliando que o salto é maior que a própria bota. Nessa quinta-feira, Bolsonaro insistiu na pregação irresponsável de que o brasileiro é corajoso para enfrentar a pandemia de peito aberto. Têm que ir para a rua sem medo da doença. Uma aberração. São nos pulmões abrigados por esses mesmos peitos brasileiros que tanta gente está morrendo.
Bolsonaro age como um ciclotímico, segundo diagnóstico mais brando de médicos. Quando ele se sente acuado, reage com ameaças antes de por o rabo entre as pernas. O exemplo mais notório foi quando amigão e operador de seu clã Fabrício Queiroz foi para a cadeia. Ali todas as suas fragilidades foram expostas. Cada exposição dessa é analisada com lupa nos bastidores em Brasília. São vistos como animais feridos na floresta, presas mais fáceis.
Cada um no topo dos poderes lê esse recado a sua maneira. Bolsonaro, por exemplo, o sublima por se sentir mais forte na pesada aposta em que espera colher vitórias nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado, e, assim, se sente à vontade para chutar os paus de todas as barracas que o incomodam. Uma delas é a da pandemia.
Imagina seguir em frente com o apoio do Centrão, uma aposta sempre arriscada. Dilma Rousseff que o diga. O problema é que ele e Pazuello continuam a atropelar uma penca de regras constitucionais passíveis de punição. Acreditar no escudo do Centrão pode virar uma mera ilusão. E aí o assessor demitido do vice Hamilton Mourão pode até virar um visionário.
Tudo a conferir.
ANDREI MEIRELES ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)