Não há sossego para os arapongas que trabalharam para o esquema criminoso de Mauricio Macri. O juiz federal Alejo Ramos Padilla aceitou esta semana a denúncia do Ministério Público e abriu processo contra os ocupantes da cúpula da Agência Federal de Inteligência no governo da direita.
Depois do desmonte da estrutura de espionagem política do macrismo, determinado pelo governo de Alberto Fernández, e da ação do MP e do Congresso, começa agora o julgamento dos grupos que usaram a AFI para perseguir peronistas, kirchneristas, comunistas e quem fosse considerado de esquerda.
O grupo processado tem Gustavo Arribas, ex-diretor da AFI, a número dois da agência, Silvia Majdalani, e mais nove agentes em postos de chefia. A primeira turma a enfrentar a Justiça agia basicamente em Buenos Aires.
Assessores de Macri já foram ouvidos, porque já há indícios de que as ordens eram dadas do gabinete dele, e podem ter o mesmo destino de Arribas.
Entender o que os arapongas de Macri faziam pode ajudar na compreensão do acontece hoje no Brasil.
Aqui, temos evidências de que a estrutura que agiu para tentar proteger Flávio Bolsonaro, dentro da Abin, pode até ser uma ala dos subterrâneos da agência, que atua em outras áreas do governo, mas acomodada na estrutura oficial.
Também na Argentina eles pareciam autônomos. Muitos faziam parte de um grupo que se autodenominou Super Mario Bros, numa referência ao personagem do jogo eletrônico.
Os arapongas de Macri tinham a missão de vigiar Cristina Kirchner, bispos, padres, deputados, senadores, jornalistas, sindicalistas, líderes comunitários, artistas.
Mas os agentes com essa tarefa não tinha autonomia. Agiam sob as ordens de alguém de dentro da Casa Rosada, e um dos principais suspeitos é Darío Nieto, O Sombra, secretário particular de Macri, já interrogado.
Visto assim, como um grupo dentro da AFI, parece que o Super Mario seria uma ala clandestina, que contava inclusive com gente recrutada de fora da agência. Mas não era.
As operações dos arapongas de Macri eram orientadas pelo diretor Gustavo Arribas. O juiz Alejo Ramos Padilla acolheu a denúncia de que a AFI havia se transformado numa organização criminosa sob gestão do seu comando.
O juiz federal é categórico na identificação das conexões da AFI com Macri: “As ações aqui investigadas obedeceram a um plano organizado e comandando pelas mais altas autoridades nacionais, que se valeram de uma das áreas mais sensíveis do governo para atender de maneira ilegal seus interesses políticos”.
É o que poderão descobrir no Brasil, a partir do caso dos serviços prestados à família Bolsonaro e outras atividades da área de inteligência?
O que o procurador-geral da República, Augusto Aras, poderá apurar das nossas mais altas autoridades, se poucos apostam que ele seja capaz de aprofundar qualquer investigação que envolva os Bolsonaros?
Na Argentina, o MP trabalha ao mesmo tempo que o Congresso, que já ouviu dezenas de suspeitos de participação nas espionagens de Macri. Não há dúvida de que os grupos agiam sob comando do governo.
A arapongagem da direita portenha está formalmente caracterizada pela Justiça como crime político de uma máfia sob as ordens de Maurício Macri.
Políticos, procuradores e juízes brasileiros poderiam tentar saber como seus colegas argentinos chegaram a essa conclusão.
Os aparongas nacionais não podem se proteger na tese muito difundida aqui de que agem numa estrutura clandestina e paralela da Abin.
O desconsolo é que a espionagem política argentina só foi desmontada com a intervenção de Alberto Fernández na AFI, logo que assumiu, e a partir de delações dos próprios arapongas.
Aqui é tudo mais difícil. Até hoje não avançaram quase nada os inquéritos sob responsabilidade do Supremo sobre os atos fascistas pró-ditadura e a fábrica de fake news que funciona dentro do Planalto.
É desolador pensar que, assim como aconteceu na Argentina, talvez tenhamos de esperar o fim de Bolsonaro para descobrir o que fazem os nossos arapongas.
MOISÉS MENDES ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)