As pesquisas de boca de urna permitem algumas reflexões. A primeira: os instituto voltaram a errar em relação a candidaturas de esquerda.
Benedita da Silva foi a maior vítima delas. Nesta semana, essas pesquisas serviram de motivo para que artistas e outros setores de uma esquerda festiva defendessem o voto útil em Martha Rocha, que nunca teve compromissos com as causas progressistas.
Era para agradar Ciro Gomes, amigo dessa turma e patrona da sua candidatura.
Esse movimento facilitou o caminho de Marcelo Crivella. Segundo a boca de urna, Benedita terminou em terceiro, três pontos à frente de Martha Rocha.
Em São Paulo, os institutos também erraram. Pela boca de urna, Guilherme Boulos teve 25%, muito mais do que mostravam os institutos nas pesquisas divulgadas até ontem.
Covas ficou com 33%, percentual parecido com o que indicavam os institutos.
Jilmar Tatto também teve mais votos do que todas as pesquisas anteriores. Segundo a boca de urna, ficou com 8% da preferência do eleitorado.
Celso Russomanno terminou também com 8% e pode sair da eleição em sexto lugar, pois tem 8% dos votos válidos, mesmo percentual de Arthur do Val, além de Tatto.
Mantida a atual condição de temperatura e pressão, Boulos se elege prefeito de São Paulo, pois o confronto será agora 1 a 1, olho no olho, e com debates, se as emissoras não fugirem de sua obrigação como concessionária de serviço público.
Uma administração de Boulos teria tudo para reeditar — e sem os equívocos do passado –, a administração de Luiza Erundina na cidade. Ela é sua vice, mas não é apenas por isso.
A situação política mudou, embora exista um paralelo: se Erundina representava uma experiência democrática depois de uma ditadura sanguinária e incompetente, Boulos agora pode ser o contraponto ao neofascismo de Jair Bolsonaro.
Se o atual ocupante do Planalto representa o triunfo da ignorância, Boulos pode ser a antítese: um governo democrático que reúna nomes da expressão da sociedade, comprometidos com as causas públicas e, sobretudo, de esquerda.
Há dois derrotados nesta eleição: Ciro Gomes, que provou não passar de um líder regional, com alguma influência no Ceará, mas fraco nas demais unidades da federação.
E Fernando Haddad, que aparentemente preferiu se guardar para a eleição de 2022, em vez de ir à luta em 2020, quando o que estava em jogo não era apenas uma administração municipal.
Era o início de uma onda para colocar de volta no governo federal um projeto inclusivo.
Política não perdoa vacilo.
Hoje, se Haddad tivesse sido candidato, talvez nem houvesse candidatura Boulos e o que se estaria discutindo era a estratégia do PT para vencer Bruno Covas no segundo turno.
Jogo jogado.
A hora agora de unir forças em torno dos candidatos de esquerda para a vitória no segundo turno, particularmente em Porto Alegre, onde Manuela tem grandes chances, Recife, onde Marília Arraes fará um enfrentamento épico contra seu primo, João Campos, que é uma espécie de Ciro Gomes mais jovem – ambos apoiaram Aécio Neves.
Em Belém, a união será em torno de Edmilson Rodrigues.
É preciso aguardar o resultado em outras capitais e cidades médias para análises complementares, pois ali também haverá o confronto necessário com a direita.
No Rio, sem Benedita, a luta será para derrotar o bolsonarismo, representado por Marcelo Crivella. Será também uma oportunidade para derrotar o fundamentalismo evangélico.
A política voltou a pulsar com força nestas eleições.
E nesse sentido é preciso comemorar a derrota da Lava Jato, que tinha em São Paulo uma representante estridente, Joice Hasselmann, que ficou com 2% dos votos segundo a boca de urna e pode sair da eleição atrás de Levy Fidelix.
Joice é Moro
JOAQUIM DE CARVALHO ” DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO” ( BRASIL)