Godefroy de Bouillon (1060 – 1100)
A queda da cristã Constantinopla em poder do sultão islâmico da dinastia Otomana, Mehmet II (1432 – 1481), O Conquistador, aconteceu em 1453 e marcou, indelevelmente, o fim de mil anos da Idade Média – iniciada no século V de nossa Era Comum. Teve início, no mesmo ano, a Idade Moderna, que se estenderia até a Revolução Francesa de 1789. Período de 336 anos em que o iluminado Reino de Portugal, dos soberanos da Casa de Avis, conduziria a Europa aos Grandes Descobrimentos.
Os herdeiros do extraordinário Mestre de Avis, Dom João I (1357 – 1433), alcançariam todos os territórios das Áfricas, bem como da Ásia, e, principalmente, descobririam o Novo Mundo. As ricas terras das Américas foram compartilhadas, inicialmente, com sua rival ibérica, a Corte sevilhana dos Reis Católicos de Espanha – na qual, para além das riquezas minerais, conheceriam alimentos que passariam a fazer parte da ementa diária de todos os europeus.
Exemplos não faltam – dos tomates às batatas e ao milho. Ao dar tantos novos Mundos ao Mundo, como exaltou em “Os Lusíadas” o poeta Luis de Camões (1524 – 1580), a Coroa de Lisboa conseguiria anular, assim, o bloqueio maometano do estratégico Estreito do Bósforo, no Mediterrâneo Oriental, separando a Europa da Ásia. A querida Constantinopla jamais voltaria, porém, a ter como monarca um soberano Cristão.
O mesmo aconteceria com outra das cidades sagradas do Cristianismo, a amada Jerusalém – controlada hoje pelo atual Estado de Israel. A cidade de origem judaica foi capturada pelos islamitas ainda no século VII, porém, por 88 anos, de 1099 a 1187, esteve sob domínio dos enviados da Primeira Cruzada do Papa Urbano II (1042 – 1099).
A segunda e última derrota Cristã em Jerusalém se daria, portanto, 40 anos antes do surgimento, em 1139, do Reino de Portugal. A retomada cristã, há 921 anos, da cidade onde Jesus Cristo foi crucificado seria imortalizada na monumental obra “Jerusalém Libertada” , publicada em 1580, do poeta italiano Torquato Tasso (1544 – 1595), natural da romântica Sorrento – vizinha a Nápoles.
Comandados pelo belga Godefroy de Bouillon (1060 – 1100), um nobre franzino e de aspecto nada guerreiro, cujo retrato ilustra a coluna, os homens de Urbano II, provenientes de diferentes regiões da Europa, entraram vitoriosos em Jerusalém, libertando, por fim, os lugares sagrados do Cristianismo – conforme escrevi no diário econômico Gazeta Mercantil, em 16 de julho de 1999, ao resenhar o relançamento do livro de Torquato Tasso, no ensejo das comemorações dos 900 anos do feito de Bouillon.
Os cristãos só viriam a perder o controle definitivo de Jerusalém na Batalha das Batalhas. Foram derrotados pelo comandante dos exércitos islâmicos, o legendário Saladino (1138 – 1193), de origem curda, nascido na iraquiana Tikrit. Os muçulmanos mantiveram a guarda dos bairros históricos até a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, quando Israel recuperou o ‘Muro das Lamentações’ e as áreas ao redor do Templo, que estavam ocupadas pela Jordânia – como aqui escrevi, em 20 de dezembro de 2018, na coluna natalícia que dediquei à venerável Santa Maria de Jerusalém.
A ironia da História pregaria uma peça aos que sonham com a retomada cristã de Constantinopla, como quase ocorreu na Grande Guerra (1914 – 1919), com a ofensiva da Rússia Czarista, abortada pela Revolução Soviética. Ou mesmo de Jerusalém – conforme propôs em 1964 o Papa Paulo VI (1897 – 1978), em visita à Terra Santa, ao sugerir que a cidade fosse compartilhada, administrativamente, por cristãos, israelitas e maometanos. Mas, convenhamos, a proeza das descobertas marítimas dos lusitanos acabariam por transformar ambas as metrópoles, simplesmente, em dois preciosos ícones do Cristianismo do Primeiro Milênio.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador