“A história é como uma espiral. Volte sempre ao mesmo ponto alguns degraus acima”.
Lá, houve conflitos entre o esquema militar e os terraplanistas do Partido Nazista. Aqui, os conflitos entre o Gabinete do Ódio e militares do governo
A frase, do maestro Hans-Joachim Koellreutter cai como uma luva para montar paralelos entre Jair Bolsonaro e Adolf Hitler. Nem se imagine que Bolsonaro tenha a dimensão de Hitler e o Brasil a dimensão da Alemanha reconstruída. Mas os paralelos são interessantes por mostrar um certo determinismo histórico que acompanha a ascensão dos ditadores.
Leia, antes, o “Xadrez do pacto de Bolsonaro com o Estado Profundo”.
Um dos pontos centrais é a tentativa de criar um inimigo externo, uma guerra externa para tentar unificar o público interno. São dessa lavra as bazófias iniciais de Bolsonaro com a Venezuela. Foi demovido pelos militares, mostrando a desproporção de força entre um país armado pela Rússia e outro dependente dos Estados Unidos.
Uma outra característica foi a montagem de um simulacro de guerra interna para mobilizar seguidores. A maneira com que o Partido Nazista se organizou foi em torno de um grupo paramilitar de nome Sturmabteilung (DAs), ou Tropa de Assalto, os chamados “camisas pardas”. Atuavam como seguranças de Hitler, espalhavam o terror e a violência pelas ruas, propunham revoluções culturais reiteradas e tinham a ambição de substituir as Forças Armadas.
Nada diferente dos discursos iniciais de Olavo de Carvalho, e do boneco de ventríloquo Eduardo Bolsonaro, levantando essa proposta no início do governo Bolsonaro. Em cima dessa estratégia, flexibilizaram a entrada e o controle de armamentos no país.
Graças às SAs e à militância radical, em janeiro de 1933 Hitler foi nomeado chanceler. Assim como no tempo de Hitler, esse poder paralelo incomodou o Estado Profundo alemão, especialmente as Forças Armadas e o próprio Hitler – que, de certo modo, tornou-se refém dessa radicalização fora do sistema.Leia também: Candidatos a prefeito do Rio: De político de cativeiro a presidente de clube, por Ricardo Mezavila
Dentro do sistema, a radicalização tem método, subordina-se à hierarquia, não permite vôos independentes de lideranças desvairadas. Lá, houve conflitos entre o esquema militar e os terraplanistas do Partido Nazista. Aqui, os conflitos entre o Gabinete do Ódio e militares do governo.
Nos anos 70, conflitos entre a violência oficial de Ernesto Geisel e a perda de controle sobre o DOI-Codi, que levou ao afastamento do general Silvio Frota. Segundo os livros de Elio Gaspari, o próprio Geisel ordenava a execução dos adversários. Mas respeitando a hierarquia.
Assim como Bolsonaro, o passo seguinte consistiu em aproximar-se do Estado Profundo alemão, as Forças Armadas, o poder econômico, a alta burocracia, para institucionalizar o poder. Hitler foi nomeado chanceler em janeiro de 1933. Em março, o parlamento aprovou a Lei Habilitantes, conferindo plenos poderes a Hitler.
Graças ao pacto com o Estado Profundo, dois meses depois o parlamento aprovou a Lei dos Habilitantes, concedendo plenos poderes a Hitler. Agora que estava montado em um pacto com as instituições, o passo seguinte seria se desfazer da anarquia dos primeiros aliados. E, aí, as instituições cooptadas ajudaram na degola.
Àquela altura, começavam a ser montadas as SSs, não mais grupos paramilitares civis, mas organizações militares de dentro do aparelho de Estado, juntando órgãos de segurança, a polícia secreta. O desmonte das SAs foi planejado por Heinrich Himler, o chefe das SS. Levantaram as ameaças dos radicais contra o regime, abriram inquérito para levantar os nomes dos principais radicais. Do mesmo modo que o STF em relação aos youtubers radicais. Em ambos os casos, em defesa da ordem.
O corte se deu na noite de 30 de junho de 1934, no episódio conhecido como A Noite das Facas Largas. As tropas da Schutzstaffel (SS) e da Gestapo.invadiram um hotel na Baviera e executaram 85 radicais Sturmabteilung. Na mesma leva, foram executadas lideranças comunistas e sociais democratas. A ação foi fulminante. A maioria dos chefes foi tirada da cama e executada no mesmo local.Leia também: Sara Winter diz que Bolsonaro indicou “abortista” para STF, mas reafirma apoio ao presidente
A ação foi legitimada juridicamente pelo Ministro da Justiça Franz Gurtner, que promulgou uma “lei de autodefesa”, espécie de excludente de ilicitude para crimes políticos.
Livres dos radicais amadores, a radicalização de Hitler foi internalizada, tornou-se institucionalizada, definindo o novo padrão do regime nazista. As SS instituíram o estado policial, organizando a política secreta, os órgãos de segurança e institucionalizando a violência nazista no aparelho de Estado.
Não há determinismo histórico. Bolsonaro não chega aos pés da dimensão política assassina de Hitler. Mas o lado institucional brasileiro, hoje em dia, está nas mãos, de personalidades da dimensão de Luiz Fux, Rodrigo Maia, David Alcolumbre,
Há a necessidade de combater esses processos antes que a minhoca se transforme em uma jiboia que devore todos os avanços democráticos.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)