As ameaças de Donald Trump à democracia norte-americana representam um perigo real à humanidade.
Ao apressar o passo para indicar uma substituta de Ruth Bader Guinburg na Suprema Corte, tentando garantir uma maioria de 6 votos contra 3 na mais alta corte de Justiça do país, Trump indica que tentará virar a eleição nos tribunais caso venha a ser derrotado nas urnas em 3 de novembro, revelando-se um aluno disciplinado da campanha de George W Bush há exatamente 20 anos.
Quando o início da apuração indicou que o candidato democrata Al Gore iria fazer a maioria dos votos na Flórida e, graças ao sistema eleitoral norte-americano, garantir a maioria no Colégio Eleitoral, o partido republicano montou uma operação de guerra baseada em dois pontos.
O primeiro, que inclui o deslocamento de um numeroso contingente de quadros políticos para o Sul do país, foi tumultuar a apuração na Flórida, para impedir a contagem final dos votos.
O segundo passo foi judicializar a controvérsia, para garantir que a decisão terminasse na Corte Suprema, onde os republicanos possuíam uma maioria de 5 votos a 4. Foi assim, a margem da vontade dos mais de 100 milhões de eleitores que foram as urnas, com base na decisão de 9 magistrados, que os republicanos recuperaram a Casa Branca, perdida para Bill Clinton em 1992. Num gesto inédito em eleições recentes, o derrotado Al Gore simplesmente se recusou a reconhecer a derrota.
Nos Estados Unidos de 2020, Trump lidera uma fatia extremista do império norte-americano, empenhada em enfraquecer direitos reconhecidos ao longo do século XX para avançar os grandes interesses que dominam a política dos EUA.
Com uma linha assumida de sabotagem a ONU, principal instituição diplomática do planeta, e demais organismos derivados, a começar pela OMS, atacada criminosamente em plena pandemia do coronavírus, o projeto aqui é claro.
Tanto na política doméstica como no plano internacional, duas faces do mesmo projeto político, trata-se de transformar em cinzas os avanços diplomáticos obtidas no século XX a partir da derrota do nazi-fascismo, para permitir o retorno a uma convivência selvagem, com base na lei do mais forte — traço primitivo que marca a existência humana desde o surgimento do capitalismo.
Num passo mais ousado que seus antecessores republicanos, Trump estimula parceiros da mesma família extremista pelo mundo afora, como o neo-fascismo italiano, o bolsonarismo e outros nostálgicos das ditaduras na América Latina. Longe da estratégia de Imperialismo Sedutor descrita pelo professor Antônio Pedro Totta no livro do mesmo nome, que descreve o momento histórico ligado a Segunda Guerra Mundial, o que se fez há duas décadas foi reforçar a diplomacia da dominação política e do poderio militar, inaugurada pela invasão do Iraque, condenada até pelo Conselho de Segurança da ONU, que produziu meio milhão de mortos e jogou o planeta num ambiente de incerteza e instabilidade que permanece até hoje.
É neste universo cada vez mais sombrio que uma nova ruptura no sistema democático norte americano pode conduzir o planeta.
Numa conjuntura de avanço de partidos de extrema direita e ameaças a democracia em vários pontos do planeta, esse comportamento não é desprezível. Os exemplos são numerosos mas na dúvida basta imaginar a campanha de Bolsonaro tentando a reeleição, dentro de dois anos, em dois cenários possíveis — com ou sem Trump na Casa Branca.
Alguma dúvida?
PAULO MOREIRA LEITE ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)