Debate de estreia do MediaTalks
Papel das big techs foi 1 dos temas
O jornalismo acumulou aprendizados fundamentais durante o período da pandemia. É o que afirmaram os profissionais de comunicação presentes em debate de lançamento da plataforma MediaTalks, do site Jornalistas & Cia, na manhã desta 3ª feira (15.set.2020).
Participaram:
- Fernando Rodrigues, diretor de Redação do Poder360;
- Leão Serva, diretor de Jornalismo da TV Cultura;
- Sérgio D’Ávila, diretor de Redação da Folha de S. Paulo;
- Washington Olivetto, publicitário;
- Eduardo Ribeiro, do Jornalistas&Cia;
- Luciana Gurgel, do Jornalistas&Cia.
Em sua exposição, o jornalista Fernando Rodrigues afirmou que 1 dos efeitos positivos da pandemia é o aprofundamento do debate sobre as fake news.
Ele citou declaração do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), em painel promovido no 15º Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) na última 6ª feira (13.set.2020). Na ocasião, o magistrado disse que considera necessário classificar as grandes empresas de tecnologia como empreendimentos de mídia. Dessa forma, Google, Facebook, Twitter e outras empresas teriam de ser responsabilizadas diretamente pelo conteúdo que seus usuários publicam nas redes sociais.
“Eu acho que o período da pandemia acelerou o debate sobre o fenômeno das fake news. E 1 dos itens do debate chegou ao Brasil agora. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, disse que 1 dos itens essenciais ao debate sobre fake news é discutir o papel das plataformas. A discussão é se as big techs devem ser apenas consideradas empresas de tecnologia, murais neutros que veiculam o que aparece, ou se, em certa medida, devem ser consideradas empresas de comunicação, com responsabilidade naquilo que divulgam. O debate está chegando no Brasil e trata-se de 1 legado da pandemia”, afirmou Rodrigues.
Sobre os desafios do jornalismo na pandemia, o diretor de Redação do Poder360 falou também sobre a importância de se ter uma equipe preparada para situações de emergência.
“Alguns sinais estão ficando mais cristalinos para o jornalismo profissional. No início de março, começamos a amadurecer a ideia, na redação do Poder360, em Brasília, de fazer a quarentena. No dia 13 de março, uma 6ª feira, todos começaram a trabalhar de casa. Foi uma operação de guerra, em menos de 24 horas, mas mostrou que a equipe estava a par do que se passava. O primeiro recado que ficou para nós é esse: a importância de termos uma equipe bem treinada para emergências”, disse.
Assista à íntegra do debate (2h08min):
<Experiente em coberturas de guerra, Leão Serva, acompanhou a analogia feita por Rodrigues. Segundo ele, o jornalismo e as guerras têm histórias cruzadas.
“Desde o início, achei que essa pandemia teria 1 efeito semelhante à uma guerra. O jornalismo depende das guerras para o crescimento de sua indústria. O jornalismo na Europa teve 1 crescimento na cobertura da Guerra da Crimeia. Nos Estados Unidos, pela cobertura da Guerra Civil. No Chile, teve muita importância a cobertura da 1ª Guerra Mundial”, afirmou o diretor da TV Cultura.
Sobre os impactos da pandemia na indústria de mídia, Serva apontou a contradição entre a valorização do jornalismo na sociedade e a dificuldade de construção de novos modelos de negócio para as empresas.
“Na hora dos grandes fatos, a imprensa vive processos de catalização. As grandes tendências se acentuam. A tendência mais clara é a de combate às fake news, a partir da educação midiática. A valorização do jornalismo já estava acontecendo e se acentuou. O jornalismo vive seu melhor momento na indústria da comunicação, ao mesmo tempo em que as empresas vivem crises em relação ao modelo de negócio e sustentabilidade. Isso se agravou, mas a tendência de confiança no jornalismos cresce”, disse.
O fortalecimento da confiança no jornalismo, à luz da pandemia, foi o centro da apresentação de Sérgio D’Ávila, da Folha de S. Paulo. Ele citou o recorde histórico de 70 milhões de visitantes únicos no site do jornal em abril.
“As pessoas estavam acostumadas a compartilhar as notícias que reforçavam suas posições políticas, mas a pandemia chegou para dizer que a diferença entre jornalismo profissional e as fake news é a diferença entre vida e morte. Vou dar 1 exemplo concreto. O presidente Donald Trump falou, em abril deste ano, que ingerir desinfetante destruiria o coronavírus em 1 minuto. A partir dessa informação falsa, os órgãos de imprensa profissionais colocaram checagens no ar, dizendo que desinfetante não cura covid-19 e que pode até matar. Quem não checou essa informação no filtro do jornalismo profissional, se deu mal. Só nas 18 horas seguintes, no Estado de Nova Iorque, houve 30 caso de exposição ao desinfetante”, afirmou.
“Em abril, na Folha, batemos 1 recorde histórico. Foram 70 milhões de visitantes únicos, o que representa mais da metade da internet brasileira”, disse D’Ávila.
O publicitário Washington Olivetto valorizou a importância do jornalismo brasileiro. Segundo ele, a publicidade do país não seria tão reconhecida se não fosse o trabalho profissional desenvolvido pelos veículos de comunicação.
“Só o jornalismo de alta qualidade oferece credibilidade. Não é difícil fazer uma coisa pseudo-intelectualizada que não vai durar muito. Não é difícil fazer uma coisa popularesca que não vai durar muito. Difícil é fazer 1 trabalho de qualidade. Isso é o que o bom jornalismo brasileiro faz há muito tempo. Num momento em que a informação ficou mais necessária do que o entretenimento, o jornalismo brasileiro mostrou isso. Agora é preciso comunicar e vender. É 1 produto de altíssima qualidade”, disse.
Durante a conversa, Olivetto fez elogios ao trabalho desenvolvido pela equipe do Poder360.
“O Poder360, do Fernando [Rodrigues], é a minha 1ª e última leitura do dia. É extremamente competente, informativo, bom. Leio deliciosamente”, afirmou.
O publicitário lê diariamente o Drive, newsletter exclusiva para assinantes produzida pela equipe do Poder360 e enviada por e-mail.
MEDIA TALKS
A plataforma MediaTalks foi lançada na última 6ª feira (11.set.2020) pelo Jornalistas&Cia, que comemora seu 25º de publicação.
Inspirados pelo modelo de slow-news, a equipe reuniu na plataforma long-reads, vídeos e podcasts sobre temas que impactam a indústria de notícias, a partir de Londres, onde está a “antena” do Jornalistas&Cia, captando tendências e histórias internacionais que ajudem organizações jornalísticas, iniciativas independentes, profissionais e estudantes a navegar por esse mundo que passa por profundas transformações.
Divulgação/MediaTalks
A MediaTalks terá conteúdos novos a cada semana e séries semestrais examinando questões que impactam os rumos da mídia, com a colaboração de correspondentes internacionais em vários países.
É o 1º produto internacional da Jornalistas Editora. Inclui o Capítulo 1 da série especial “Efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre o jornalismo – Uma visão global”, com textos informativos e analíticos sobre a atuação da mídia, do jornalismo e dos jornalistas na cobertura da pandemia, nos 5 continentes.
O projeto conta com o apoio institucional de ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas) e ANJ (Associação Nacional de Jornais).
PAULO MOTORYN ” BLOG PODER 360″ ( BRASIL)