O Cristianismo surgiu no coração da Terra Santa, na Judeia, onde se localiza a cidade natal do Rei David, na bíblica Belém, hoje em poder da Autoridade Palestina, com o nascimento de Jesus. Trinta e três anos depois, em Jerusalém, na mesma Judeia, seria crucificado, após passar grande parte da existência em Nazaré, na Baixa Galileia, a 104 quilômetros ao Norte da capital do Reino de Israel e a 80 do atual Líbano – antiga Fenícia.
Mas a Igreja, a rigor, seria fundada na vizinha Síria, então Mesopotâmia, a partir da conversão de São Paulo, no Caminho de Damasco, que, juntamente com São Pedro, criariam, em Edessa, um dos pioneiros templos da Cristandade. E em Damasco está enterrado São João Batista, precursor da Boa-Nova na Síria e na Ásia Menor, na Turquia. Pedro e Paulo levariam o Cristianismo aos gregos e a Roma. São Marcos converteria o Egito dos Coptas. São Tiago chegaria à região espanhola da Galícia e São Tomé, por inspiração de Jesus, alcançaria a Índia. Apenas três dos 12 discípulos de Cristo, entre os quais não estavam São João Batista, São Paulo e São Marcos, foram sepultados sob uma imponente Basílica com o seu nome: São Pedro, Santiago e São Tomé – que precisou ver para crer na Ressureição do Senhor.
O primeiro repousa em Roma, à Piazza di San Pietro, porta de entrada da esplêndida Santa Sé papalina, no Vaticano, única das sete colinas da Città Eterna à margem direita do Rio Tibre. Os restos mortais de São Tiago se encontram à Praza do Obradoiro, no altar da monumental Catedral de Santiago de Compostela, capital da Galícia. Já São Tomé está no distrito de Mylapore, em Madras, denominada Madrasta pelos portugueses, hoje, Chennai, capital do Estado do Tâmil Nadu, no Golfo de Bengala.
A deslumbrante Basílica dedicada a São Tomé foi construída em 1523 pelo Rei de Portugal Dom João III (1502 – 1557), O Piedoso, primogênito e herdeiro do trono do legendário Dom Manuel I (1469 – 1521), O Bem-Aventurado. Foi erigida sobre o túmulo do Apóstolo no inconfundível estilo arquitetônico neogótico português, marcadamente manuelino – a exemplo do impressionante Mosteiro dos Jerônimos, à Metrópole, no bairro lisboeta de Belém. O mesmo Dom João III mandaria elevar outro templo na gruta na qual foi morto São Tomé – a Capela de Nossa Senhora da Expectação, próxima a Mylapore, no monte que tem o nome do santo, inaugurada em 1547.
Os dois locais são pontos sagrados do Cristianismo na Índia – que abriga mais sete igrejas devotadas a São Tomé. Quase todas erguidas pelos lusitanos, na margem oposta do Golfo de Bengala, concentradas no Oceano Índico, onde fica Goa, que foi sede por quatro séculos do Império Português do Oriente. O país tem cerca de 1,4 bilhão de habitantes – com maioria absoluta de hinduístas. Os cristãos representam sete por cento da população, dentre os quais, existem famílias convertidas há dois mil anos pelo ‘discípulo incrédulo’, bem como por Siríacos Nestorianos, na Idade Média, e também através dos missionários Jesuítas enviados de Lisboa, no século XVI, sob o comando do espanhol navarro São Francisco Xavier (1506 – 1552).
A popularidade de São Tomé, à época, junto ao poderoso soberano de Mylapore, Gondofares, despertou a inveja dos brâmanes – religiosos do Hinduísmo. Foi, por isso, duramente perseguido pelos sacerdotes e assassinado no dia três de julho do ano 72 de nossa Era Comum, durante macabro rito de sacrifícios humanos.
Os monumentos e catedrais levantadas pelos portugueses na Índia são a prova viva da apostólica presença do Discípulo de Cristo na profunda Ásia.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)