PAULO GUEDES, O INCRÍVEL CONTADOR DE HISTÓRIAS

Ontem, na Folha, um grupo de 8 acadêmicos se juntou para uma antologia dos maiores “causos” de Guedes. Apenas um poderia ter compilado seus feitos

Uma das características mais presentes nos tempos atuais, é a enorme capacidade dos homens públicos de criar narrativas completamente dissociadas da realidade.

Um dos exemplos recentes foi Donald Trump, na convenção republicana, eximindo-se totalmente do fracasso do combate ao Covid-19. Outro, o governador fluminense Wilson Witzel em discurso na frente da sede do governo, sustentando que a operação da Lava Jato Rio de Janeiro não havia apresentado nenhuma prova contra ele. Nos jornais, contratos de sua esposa com escritórios de advocacia ligados a empresas beneficiadas por ele, enquanto governador. Sem contar o insuperável Jair Bolsonaro, debitando aos governadores os reveses do combate ao Covid-19.

Mas provavelmente nenhum homem público atual desenvolveu a capacidade de construir ficções como o Ministro da Economia Paulo Guedes. Sua capacidade de chutar números é insuperável.

Seu comportamento em uma das primeiras viagens aos Estados Unidos, prometendo a uma plateia de investidores vender até o Palácio do Governo é de um ridículo só possível em quem não tem a menor noção sobre a liturgia do cargo.

Ontem, na Folha, um grupo de 8 acadêmicos de juntou para uma antologia dos maiores “causos” de Guedes. Apenas um poderia ter compilado seus feitos. O fato do artigo ter sido a 16 mãos é apenas um sinal da indignação coletiva que Guedes provoca em todo economista sério, de qualquer linha econômica.

Eis a lista dos feitos de Guedes:

* Na campanha de 2018, garantiu, contra todas as evidências, que zeraria o déficit primário de cerca de R$ 130 bilhões no primeiro ano de governo, contra a opinião de todos os técnicos especializados em orçamento. Acabou o ano, o déficit continuou e não se falou mais nisso.Leia também:  A construção social da reivindicação do aborto no Supremo Tribunal Federal

* Prometeu privatizar todas as estatais, calculando que conseguiria arrecadar 30% do PIB, ou R$ 2 trilhões. Como lembram os autores, prometia sempre para “a semana que vem”.  Em julho, o BNDES mostrou que a maioria dos estudos sobre os efeitos das privatizações sequer estavam concluídos.

* Em setembro de 2019, Guedes anunciou que apresentaria a proposta de reforma tributária “na semana que vem”. A proposta só foi apresentada fatiada em julho de 2020.

* Em julho de 2019 anunciou que o novo mercado de gás reduziria em 40% o preço da energia. A reforma nunca saiu do papel.

* A reforma administrativa também não saiu do papel.

* Prometeu 3,7 milhões de empregos com a MP da Liberdade Econômica, e outros 4 milhões com a Carteira Verde e Amarela. Nada aconteceu.

* Em abril, comportou-se como agente de um “amigo inglês” que doaria 40 milhões de testes do Covi-19 por mês. E garantiu que “com três ou cinco bilhões” o Brasil venceria a pandemia. Os gastos já somam meio trilhão de reais.

* Assim que assumiu, anunciou uma recuperação em V da economia. Ou seja, uma alta súbita depois de uma queda aguda. Em 2019, houve uma redução no ritmo de crescimento do PIB.

O artigo termina com uma definição da economista Esther Duflo, Prêmio Nobel de 2019, sobre os três “iis” que atrapalham o desenvolvimento: inércia, ideologia e ignorância.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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