O NOVO RUMO DO GOVERNO BOLSONARO

Os ministros Paulo Guedes (Economia) e Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura): novo rumo reorganiza o equilíbrio de forças no governoSérgio Lima/Poder360

Bolsonaro vê o que Lula já viu antes

Guedes perde poder; Tarcísio ganha

Exclusão social é mal de nosso tempo

Ação do Estado se mostra necessária

Na semana passada, o ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto entregou ao presidente Jair Bolsonaro um projeto de cunho desenvolvimentista, chamado de Pró-Brasil, com o objetivo de mudar a legislação na área empresarial e gerar empregos com projetos de curto, médio e longo prazo.

Caso seja adotado, o Pró-Brasil seria uma nova virada para Bolsonaro, que já vem colhendo popularidade pela distribuição do auxílio emergencial –o “coronavoucher”, como vem sendo chamado. Sinal disso foi a pesquisa do Datafolha de 6ª feira passada, que mostrou um crescimento de 32% para 37% na aprovação do governo, seu melhor resultado até agora.

Num país que chegou a mais de 13 milhões de desempregados com a crise, e tem cerca de 80 milhões de pessoas trabalhando na informalidade, segundo o IBGE, o emprego é questão central. Com um plano desenvolvimentista, cujo sonho seria repetir o “milagre econômico” do início dos anos 1970, no regime militar, o governo não dependeria somente do programa de renda mínima inventada pelo PT, hoje chamado de Renda Brasil.

Não existe geração de riqueza sem trabalho, de forma que uma agenda de projetos seria ótima para o país. A constatação que fica é de que o poder econômico vai saindo das mãos do ministro Paulo Guedes, que chegou a ser chamado de “czar da economia” pela concentração de poderes. O plano de Guedes, feito com cortes de gastos, controle do déficit e privatização, apostando na volta do investimento privado como motor do crescimento, tem se mostrado insuficiente para dar um choque de vida ao país. Ainda mais agora, depois da pandemia.

No seu lugar, ganha protagonismo a pasta da infraestrutura, de Tarcísio Gomes de Freitas, outro militar de formação. Seria ele o encarregado de tocar esse esforço de guerra, equivalente a um “Plano Marshall” brasileiro, para a reconstrução nacional.

Um plano desenvolvimentista seria bom, mas, como todo plano, depende da execução. E a execução passa pela sua forma de financiamento. No regime militar, esses recursos vieram de empréstimos externos, que acabaram numa imensa dívida externa e no elefante branco das empresas estatais, as tocadoras dos projetos, que acabaram em estagnação e hiperinflação.

Hoje não há crédito externo e o governo não tem dinheiro. Guedes esperava que ele viesse da iniciativa privada, mas pouco conseguiu. Pelo Pró Brasil, o governo entraria de novo em ação. Somente este ano, seriam liberados R$ 3 bilhões em créditos para obras. Uma forma de dar o arranque inicial a um projeto onde teriam de entrar mais R$ 1 trilhão de dinheiro privado em 10 anos.

O plano do general faz sentido, mas depende de duas coisas. A volta do investimento privado depende menos de financiamento para obras, e mais da certeza de que o governo não criará problemas e haverá um ambiente de estabilidade. Até aqui, o maior empecilho para criação desse ambiente tem sido o presidente Bolsonaro, com seu temperamento intempestivo, a política de alimentação contínua da cizânia e seus fins claramente antidemocráticos.

O outro grande desafio é o da criação do emprego em si, um problema do Brasil que depende também do mundo. O globalismo e capitalismo tecnológico vêm desestruturando a economia formal. Levaram para a China o coração do trabalho industrial do planeta e fizeram o capital se tornar tão volátil que se tornou difícil de taxar pelos estados nacionais.

Somente um acordo global de tarifas permitiria hoje taxar o capital transnacional. Enquanto isso não ocorrer, será difícil para os Estados nacionais recuperarem seu poder econômico e a capacidade de realizar políticas assistenciais mais consistentes, que dependem primeiro de recursos, para que eles possam ser redistribuídos.

Por isso, nenhum reforma do tipo CPMF seria hoje eficaz. Diante da pouca munição dos governos, as formas alternativas e informais de geração de emprego parecem ser a solução do momento. Até mesmo o papa Francisco tem procurado encontrar auxílio para os milhões de miseráveis que se multiplicam pelo mundo. Fez promover reuniões de economistas católicos em todo o planeta, que discutiram uma “economia de Francisco” no início do ano.

Entre as ideias a serem levadas adiantes pela igreja católica, está a criação de fazendas coletivistas que gerem emprego e cujo resultado seria dividido entre seus trabalhadores cooperativados. Seria uma reedição contemporânea das antigas missões jesuítas dos tempos coloniais –uma volta ao passado, na contramão da otimização tecnológica que vem acabando com o emprego, de forma a restituir o trabalho.

O documento final para a adoção da “economia de Francisco” foi adiado pelo coronavírus. Viria de uma rodada de discussões dos planejadores católicos de vários países que aconteceria no Vaticano em março, e acabou sendo transferida para novembro.

O certo, porém, é que não parece haver muita saída para resolver o problema da miséria do Brasil e do mundo a não ser uma ação do Estado que force o capital privado a investir e apostar em projetos que funcionem na base do mutirão.

A exclusão social é o grande problema do nosso tempo. Bolsonaro, com as pesquisas na mão, está vendo o que Lula já tinha visto, vinte anos atrás. Demora-se para aprender com o inimigo –mas é isso o que ele parece estar fazendo.

THALES GUARACY ” BLOG PODER 360″ ( BRASIL)

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