“Debandada”, risco de “impeachment fiscal” e conselheiros fura-teto atazanando os ouvidos do presidente.
Tudo isso disse o ministro Paulo Guedes em alto e bom som, no que foi corretamente interpretado como um recado para o próprio chefe, o presidente Jair Bolsonaro.
Mas não só. Ao dizer o que disse, o ministro da Economia tentou socorrer-se junto àqueles a quem ele conhece bem, os agentes do mercado financeiro.
E eles não decepcionaram: diante dos gritos de alarme do titular da Economia, a bolsa afundou, os juros futuros dispararam e o dólar chegou perto dos 5,50 reais.
A jogada produziu o efeito desejado.
Por duas semanas o teto de gastos ficou sob ataque no Congresso e no governo sem que ninguém da base aliada ou de outro ministério que não o de Guedes viesse a público defendê-lo.
Depois do pequeno e calculado escândalo do ministro saíram da toca não apenas o vice Hamilton Mourão como o próprio Bolsonaro.
O presidente publicou um tuíte afirmando que o teto de gastos e a responsabilidade fiscal continuam sendo o norte do governo.
Com isso, deu a entender que no braço-de-ferro entre os fura-teto e os defensores do teto, está – por ora— com os últimos.
Os mais otimistas viram na manifestação do presidente uma “blessing in disguise”, a expressão inglesa que indica a ocorrência de algo bom (uma “bênção”) em meio à desgraça.
Mais seguro seria dizer que a política fiscal de Paulo Guedes ganhou um fôlego, assim como ele próprio.
Desta vez, o ministro se limitou a gritar que a casa estava caindo.
Mais para frente, se o teto desabar, só lhe restará duas opções: deixar-se soterrar ou sair correndo.
THAÍS OYAMA ” SITE DO UOL” ( BRASIL)