Domingo, 2 de agosto de 2020, quinto mês da pandemia.
Reina em todo o território nacional a paz dos cemitérios, a caminho dos 100 mil mortos e 3 milhões de contaminados pelo coronavírus, sem que nada mude.
A única notícia do dia é que o presidente foi de moto tomar café numa padaria de Brasília.
Lá ele falou rapidamente com os jornalistas sobre a “nova CPMF” que Paulo Guedes deve enviar ao Congresso na próxima semana:
“Se o povo não quiser, se não quiser mexer, deixa como está”, recomendou ao ministro.
Ou seja, é apenas mais um balão de ensaio da “reforma tributária”, a salvação da lavoura, na base do se colar, colou.
Bolsonaro não parece muito preocupado com isso. Ele só faz planos para a reeleição em 2022 e vai empurrando o governo com a barriga.
Até lá, seja o que Deus quiser, e quem não estiver satisfeito que vá reclamar com o bispo. .
E assim, sai semana, entra semana, o país segue navegando sem rumo, em direção ao desastre anunciado, sem sinais de terra à vista.
O tal do iceberg previsto por Bolsonaro na reunião ministerial de 22 de abril parece ter desmanchado no mar.
De lá para cá, começou um novo governo.
Bolsonaro se livrou de Moro e da ala ideológica, domou os filhos e parou de brigar com a imprensa. Recolheu-se ao silêncio.
Aliou-se ao Centrão, distribuiu o butim de cargos e verbas, e deixou a administração do governo nas mãos dos generais, até o Ministério da Saúde, enquanto viaja pelo país, fazendo propaganda de cloroquina em busca dos votos perdidos.
Como aconteceu na Proclamação da República, o primeiro dos golpes militares, o povo a tudo assiste bestificado, sem dar um pio.
Já repararam que não há mais manifestações a favor nem contra o governo?
Nada mais parece capaz de causar qualquer reação popular por maiores que sejam os desatinos.
Tudo foi sendo incorporado pelo “novo normal”, e a boiada vai passando.
Engana-se quem diz que Bolsonaro assumiu sem ter um plano de governo.
O plano era esse mesmo: acabar com os direitos civis, a começar pelos trabalhistas, tratorar a oposição, a cultura e a educação, controlar os órgãos de controle, fazer as vontades do mercado, transformar a Amazônia num pasto da bancada do boi (ver capa da Veja desta semana), dizimar populações indígenas e quilombolas, garantir e ampliar os privilégios dos militares, armar as milícias da bancada da bala, facilitar a vida dos bispos da bancada evangélica, e dar uma banana para o resto.
E foram só 19 meses de governo até agora. Até 2022, o que falta fazer? O que restará aos sobreviventes, além de esperar por um milagre?
Vida que segue.
RICARDO KOTSCHO ” BALAIO DO KOTSCHO” ( BRASIL)