Enquanto o vice-presidente Hamilton Mourão tem como tarefa imediata apagar o fogo da Amazônia, o Governo Federal pode perder dois colaboradores: Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e Eduardo Pazuello, o interino da Saúde
O vice-presidente Hamilton Mourão está alisando o lombo para a saraivada de pancadas que vêm aí na esteira de queimadas e incêndios na Amazônia. Na condição de gestor do caos ecológico, o general terá de inverter sua visão do combate: oficial de artilharia, formado para saturar o inimigo e abrir caminho para infantes e cavalarianos, ele terá que abrir espaço, como um comandante guerrilheiro, atuando solitário num terreno totalmente ocupado pelo adversário. Esta metáfora guerreira é a propósito do imbróglio ambiental que bota nas cordas um governo substancialmente ocupado e gerido por militares. É um grande desafio.
Em meio a um tsunami de fake news (meias-verdades, as tecnicamente autênticas fake), o general terá de se haver com uma opinião pública hostil, sem canais para contradizer o noticiário. Muito menos conseguir algum apoio de aliados minimamente condescendentes fora dos quadros estritos da extrema direita política ou econômica, quais sejam: seguidores ideológicos do presidente da República ou os interessados nos negócios ligados às denúncias, os segmentos do agronegócio tidos como retrógrados.
Sua missão, para ter êxito, teria de se descartar de tais aliados e procurar interlocutores que pudessem ouvir seus argumentos: o Brasil é um dos países com maiores e mais exitosos projetos e esforços de preservação das matas nativas, tem um retrospecto brilhante, com ações efetivas e uma legislação de fazer inveja a qualquer ambientalista europeu, e sua ocupação econômica da Amazônia Legal, tanto agrícola quanto de outras atividades (indústria e extrativismo), atendem acima da linha básica às recomendações da sustentabilidade. O ponto fora da curva é a atividade ilegal. Mas ninguém ouve uma só palavra neste sentido. Pelo contrário.
O general Mourão está nas cordas, como ele disse. O mato está pegando fogo e não há o que detenha as chamas nas savanas de cerrado ou capoeira. A floresta úmida, que é a Amazônia no imaginário dos ambientalistas estrangeiros e brasileiros urbanos, não pega fogo. Aquele mar verde é imune às labaredas.
Mas quem quer saber disso? Este é o problema do general de artilharia, estar num lugar que deveria ser de um especialista em comunicação, com credibilidade de formador de opinião entre profissionais da mídia nacional e internacional. Os jornalistas, ele deveria saber, repetem o que ouvem das fontes. O que sai da boca do presidente Jair Bolsonaro não ajuda a desdizer o dito por não dito.
Queimando pontes
Diante disso tudo, usando a metáfora mais adequada, o vice-presidente está no mato sem cachorro. De um lado há uma realidade incontornável a curto prazo, e ele tem menos de um mês para reverter esse quadro negativo, que é o escândalo do fogo nas telas das tevês e telinhas dos celulares das redes sociais mundo afora.
De outro lado, o belicismo do presidente da República deixa Mourão sem recuo, pois já se queimou todas as pontes à retaguarda. Ao atacar indiscriminadamente as chamadas ONGs, o governo excluiu um possível apoio ou cooperação, pelo menos condescendente, de uma boa parte dessas entidades, no Brasil e mundo afora. Há muitas organizações não-governamentais de linhas moderadas, que não estão ligadas às militâncias estridentes que dominam a base das redações, formando a opinião dos ativistas, dando margem a tais campanhas. Estes estão sendo levados de roldão. Ninguém se atreve a dar o braço a torcer.
Entregando os anéis
Ainda na metáfora da batalha perdida, o governo vai entregando aos poucos os seus anéis. As cabeças a prêmio que se cuidem, tratando de não escorregar nas cascas de banana. E assim o presidente da República vai entregando de um a um, parcimoniosamente, seus desastrados ministros.
O primeiro a cair, depois de, como o técnico de futebol da anedota, ser “prestigiado”, foi o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Agora temos dois na fila. Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e Eduardo Pazuello, da Saúde.
Há apostas de qual dos dois será a primeira cabeça a rolar diante das multidões na praça. Salles tem sua boiada a levá-lo para o cadafalso; Pazuello, suas incômodas estrelas de general comichando no ombro, enquanto o novo coronavírus resiste. Bolsonaro entrega a conta-gotas.
PINHEIRO DO VALE ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)