Desconfio que nem mesmo o presidente Jair Bolsonaro, que o chama de “meu Posto Ipiranga”, o homem que sabe tudo, ainda acredita nas lorotas de Paulo Guedes, o vendedor de loteamentos no céu.
Numa videoconferência em que tentava convencer os membros da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) que o Brasil “é um país que alimenta o mundo preservando o seu meio ambiente”, o czar da Economia pediu a ajuda de outras nações para promover “políticas de preservação”, sem dizer que políticas são essas.
Quem Paulo Guedes ainda pensa que engana, ao acusar os outros países que se “escondem atrás de políticas protecionistas”? Essa é a política do governo: sempre colocar a culpa nos outros.
Na mesma hora em que o ministro falava para o mundo, o governo anunciava a demissão da coordenadora-geral de Observação da Terra do Inpe, responsável pelo monitoramento da política de destruição da Amazônia implantada pelo governo desde a posse, que em junho bateu recordes de desmatamento e queimadas.
O motivo alegado pelo astronauta Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia, para a demissão de Lúbia Vinhas, foi uma “reestruturação para buscar sinergias”, quando até o mundo mineral sabe que a causa foi a mesma de sempre: Bolsonaro não gostou dos números assustadores apresentados pelo Inpe. Em apenas um mês, mais de mil quilômetros quadrados de mata foram destruídos.
Pelas mesmas razões, caíram os ministros da Saúde Mandetta e Tech, que revelavam os números da pandemia, e o físico Ricardo Galvão, que comandava o Inpe até o ano passado, quando bateu de frente com o presidente.
Em vez de demitir Ricardo Salles, o anti-ministro de Meio Ambiente, principal responsável pela perda de credibilidade do país nas questões ambientais, Bolsonaro encarregou Guedes e o novo vice-rei da Amazônia, general Hamilton Mourão, para convencer empresários nacionais e investidores estrangeiros de que o Brasil está combatendo o desmatamento.
Como nenhum deles sabe do que está falando, a cada nova videoconferência pior fica a imagem do país, e não adianta injetar milhões em propaganda, demitir funcionários e culpar a imprensa comunista pelas más notícias.
Hoje, qualquer pessoa ou empresa pode ter acesso a dados de satélite que mostram o criminoso avanço de madeireiros, garimpeiros e criadores de gado, botando fogo no que resta de Floresta Amazônica, que o ministro das Comunicações, Fábio Faria, confundiu com Mata Atlântica.
Para os bolsonaristas, a defesa do meio ambiente deve “ser coisa de viado”, assim como o uso de máscaras no combate à pandemia do coronavírus.
Na mesma reunião ministerial de 22 de abril, em que Ricardo Salles anunciou que é hora de “passar a boiada”, Paulo Guedes defendeu a abertura de cassinos para incentivar o turismo, mas nada disse sobre a importância da preservação ambiental para a economia do país.
Desde a época da campanha, em que foi o fiador do capitão Bolsonaro junto ao mercado financeiro e empresários da Fiesp, o superministro da Economia só sabe vender a panaceia das “reformas” para retomar o crescimento e criar “milhões de empregos”, mas até agora só fez foi tirar direitos trabalhistas e previdenciários, e aumentar o desemprego.
É um Robin Hood ao contrário, que tira dos trabalhadores para irrigar os bancos, e agora quer trocar o nome Bolsa Família para Renda Brasil, sem detalhar o programa, que está em “fase de modulação” no ministério.
Se nada der certo, ele pega o seu boné e vai curtir a vida, fazer o que sempre fez: viver de rendas.
Aos que estranham o vazio nas estantes atrás do ministro, quando ele participa das videoconferências, há uma explicação: ele agora mora provisoriamente na Granja do Torto e ainda não levou para lá sua biblioteca. Talvez não dê tempo.
Nela não há nenhum livro de sua autoria.
Vida que segue.
RICARDO KOTSCHO ” BALAIO KOTSCHO” ( BRASIL)