Duas notícias me chamaram a atenção hoje para o “modus operandi” do governo Bolsonaro, baseado em trambicagens variadas, para driblar as leis e forjar currículos maravilhosos.
Notícia um: a Universidade de Wupperthal, na Alemanha, informa que Carlos Decotelli, o novo ministro da Educação, passou apenas três meses lá no começo de 2016 e saiu sem nenhum título de doutorado, como consta do currículo do professor orgulhosamente apresentado prelo presidente Jair Bolsonaro ao nomeá-lo para o lugar de Abraham Weintraub (lembram-se dele?).
Decoteilli nem poderia ter pós-doutorado pelo bom e simples motivo de que não foi aprovado no curso de doutorado na Universidade de Rosário, na Argentina, como ficamos sabendo na semana passada.
Por causa da sucessão de fraudes que estão sendo reveladas no seu currículo, a posse do ministro, que estava marcada para terça -feira, foi adiada, sem data para acontecer.
Notícia dois: para contornar a proibição de aumento de salários de servidores públicos durante a pandemia, o governo providenciou mais um reajuste nos “penduricalhos”, que vai aumentar o soldo dos oficiais em R$ 1600 já a partir de julho. Trata-se do “adicional de habilitação” para quem fez cursos ao longo da carreira que vale para militares da ativa e da reserva.
Ninguém faz mais cursos do que os militares, aqui e lá fora. Não lhes faltam diplomas, ao contrário do que acontece com Docatelli.
Bolsonaro já havia autorizado, já no ano passado, o reajuste para até 73% sobre o soldo dos militares, em quatro parcelas. Antes de assinar a medida que congelou agora o salário de servidores para liberar ajuda aos estados, o presidente já havia concedido também um aumento para policiais militares do Distrito Federal.
Enquanto milhões de trabalhadores perdem empregos ou são atingidos por suspensão e corte de salários, um general de quatro estrelas, que tem soldo base de R$ 18.400, juntando todos os penduricalhos vai ganhar salários de pelo menos R$ 29.700, mas podem passar de R$ 50 mil, como informa reportagem do Estadão.
É o caso, por exemplo, do general da ativa Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo, que em março recebeu R$ R$ 51.026,06.
Na reforma da Previdência os militares também foram beneficiados com regras mais camaradas do que a dos simples mortais do INSS e receberam vários auxílios para complementar seu salários.
Os ministérios da Economia e da Defesa não informaram qual será o impacto do aumento dos penduricalhos na folha de pagamentos. O Ministério da Defesa informou apenas que o aumento nos gastos será “autossustentável”.
Militares de baixa patente agora também pressionam para receber esses benefícios. Em tudo pode-se dar um jeitinho.
No caso do “doutor” Docatelli, vale lembrar a velha máxima de Millôr Fernandes: “Jamais diga uma mentira que você não possa provar”.
A assessoria do Ministério da Educação agora tem que soltar uma nota atrás da outra para justificar os “enganos” no currículo do sucessor de Weintraub, chamados de “eventuais falhas técnicas ou metodológicas”.
Além da questão dos títulos de doutor e pós-doutor, que simplesmente não existem, Decotelli também foi acusado de plágio em sua dissertação de mestrado na Fundação Getúlio Vargas, que possui textos idênticos a um relatório da Comissão de Valores Mobiliários. Confrontado com os fatos, Decotelli, alterou seu currículo Lattes.
Se o quando assumir o cargo de ministro, Decotelli vai passar mais tempo se explicando do que cuidando dos gravíssimos problemas no Ministério Da Educação herdados da administração anterior.
Garantido o agrado aos militares, que já ocupam 10 ministérios e 2.900 cargos na administração federal, quem ainda vai falar em golpe? Para quê?
“Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei, se possível”, já ensinava Getúlio Vargas, inspirado em Maquiavel,
Desde Cabral, o Pedro Álvares, o Brasíl é assim.
Vida que segue.
RICARDO KOTSCHO ” BALAIO DO KOTSCHO” ( BRASIL)
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