
Dois corpos não ocupam o mesmo espaço. E no caso de haver disputa, ganha o que tiver a cotovelada mais forte.
Logo no início do governo Bolsonaro, um pelotão de coronéis da reserva do Exército foi chamado para ocupar postos do segundo e terceiro escalão da administração federal.
A ideia era aproveitar a boa reputação dos militares para “moralizar” a nova gestão e, sobretudo, “despetizá-la”, como chegou a dizer o ministro Ônyx Lorenzoni.
A “convocação” dos militares foi conveniente para o governo e também para os coronéis. Um cargo comissionado na categoria DAS 4, onde está a maioria desses oficiais, corresponde à faixa salarial de 10 mil reais – nada mal para quem já goza de uma respeitável aposentadoria conquistada em torno dos 50 anos de idade.
Ocorre que, a partir do que se convencionou chamar de “o rearranjo da base do governo no Congresso” — também conhecido como a entrega de Bolsonaro ao “toma-lá-dá-cá”—foi preciso cavar espaço para acomodar os novos amigos do Centrão.
E assim, os coronéis do governo começaram a ser chamados por seus superiores para ouvir um curto e grosso “na rota” —o que pode ser traduzido da linguagem da caserna como: “Rua”.
Isso aconteceu na semana passada com militares lotados na Secretaria Nacional de Segurança, subordinada ao Ministério da Justiça, e também na secretaria de Esportes, subordinada ao Ministério da Cidadania.
Mas os coronéis estão espalhados também pela Petrobras, Itaipu, Correios e Incra, entre outras áreas agora vorazmente cobiçadas — e não apenas pelos novos amigos do presidente.
Diante do “rearranjo” com o Centrão, siglas que até agora apoiavam o governo de graça passaram a exigir um lugar ao sol. Como definiu em singelas palavras o deputado Paulo Eduardo Martins, do PSC, que junto com a sua bancada, esteve hoje com Bolsonaro: “Como o governo abriu diálogo com outras bancadas, era hora de dar carinho a um velho amigo.”
Agora é assim: para os amigos, “carinho”.
Para os coronéis, na rota.
THAÍS OYAMA ” SITE DO UOL” ( BRASIL)