Assinado por 78 oficiais da reserva do Exército, da Marinha e da Aeronáutica _ entre eles, 12 brigadeiros, cinco almirantes e três generais _ , um novo manifesto das Forças Armadas em defesa do governo Bolsonaro é uma verdadeira declaração de guerra ao Supremo Tribunal Federal.
O documento, uma inicistiva de dois coronéis da FAB, é todo redigido em código para fazer a apologia do papel dos militares, em contraposição aos outros poderes, que usariam “um palavreado enfadonho, supérfluo, verboso, ardiloso, como um bolodório de doutor de faculdade”.
Dirigido ao Sr. José Celso de Mello Filho, o decano do STF, o manifesto é mais uma dura resposta dos militares à liminar do ministro Luís Fux, da semana passada, segundo a qual “a missão institucional das Forças Armadas (…) não acomoda o exercício de poder moderador entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário”.
Mas eles acham que o poder dos militares está acima dos outros poderes, como deixou bem claro a nota divulgada por Bolsonaro, na qual afirma que “as Forças Armadas não cumprem ordens absurdas” nem aceitam “tentativas de tomada do Poder por outro Poder da República, ao arrepio das Leis, ou por conta de julgamentos políticos”.
Celso de Mello é o principal alvo dos militares por ser o relator do inquérito sobre as denúncias do ex-ministro Sergio Moro a Jair Bolsonaro, por supostas interferências políticas na Polícia Federal.
Os militares não aceitaram a decisão do ministro, que teve a ousadia de convocar para depor no inquérito, três generais alojados no Palácio do Planalto, que poderiam ser conduzidos “sob vara”, se fosse necessário.
No tom bélico de uma Ordem do Dia dirigida aos quartéis, a palavra Militar é grafada com letra maiúscula no manifesto em frases grandiloquentes
“Nenhum militar recorre à subjetividade ao enunciar ao subordinado a missão que lhe cabe executar, se necessário for, com o sacrifício da própria vida”.
“Nenhum Militar deixa de fazer do seu corpo uma trincheira em defesa da Pátria e da Bandeira”
“Nenhum Militar é comissionado para cumprir missão importante, se não estiver preparado para levá-la a bom termo”.
Não é exatamente isso que se tem visto na atuação dos militares colocados à disposição do governo, em especial no Ministério da Saúde, entregue a um general paraquedista, especializado em logística, em meio à pandemia que mata um brasileiro por minuto. .
Também não é essa a percepção da população, segundo pesquisa do Instituto da Democracia, que reúne pesquisadores de onze instituições no Brasil e no exterior, sobre o grau de confiança nas instituições.
Segundo esse levantamento, publicado no jornal Valor Econômico, houve uma queda de sete pontos percentuais da confiança nas Forças Armadas desde 2018, caindo de 33,9% para 27%.
Para 58,9% dos entrevistados, a presença dos militares em cargos do primeiro e segundo escalão não ajuda a democracia, quase o dobro dos 30,1% que a aprovam.
No final do manifesto, os militares escrevem uma frase enigmática:
“E, principalmente, nenhum Militar, quando lhe é exigido decidir matéria relevante, o faz de tal modo que mereça ser chamado, por quem o indicou, de general de merda”.
O que eles querem dizer com isso?
Se Eduardo Bolsonaro só precisava de um cabo e um soldado para fechar o Supremo, antes da posse do pai, agora pode contar com um belo reforço.
Os rojões disparados pelos bolsonaristas sobre o STF na noite de sábado podem ter sido só um prenúncio.
Vida que segue.
RICARDO KOTSCHO ” BALAIO DO KOTSCHO” ( BRASIL)