Neste mês em que Portugal comemora o seu Dia Nacional, o Dia de Luis de Camões, transcorrido ontem, 10 de junho, celebrará, também, com pompa e circunstância, os 806 anos de nosso idioma, assinalado pelo primeiro texto escrito completamente em vocábulo português, o Testamento do Rei Dom Afonso II O Gordo (1185 – 1223), em 27 de junho de 1214.
Foi considerada, em 2014, a segunda língua mais feliz do planeta, quando de seu jubileu de 800 anos, em estudo realizado pela universidade americana de Vermont, ao Norte de Nova York, na região da Nova Inglaterra – conforme aqui relatei na edição de 25 de setembro daquele ano.
A primeira é o castelhano, da vizinha Espanha, e a terceira, o inglês. O último colocado foi o idioma predominante na China, o mandarim, classificado pelos especialistas de Vermont como uma língua com pouquíssimas palavras positivas. O português, falado nos cinco continentes, foi consagrado na poesia de Luis de Camões (1524 – 1580), em “Os Lusíadas”. O alemão ficou em quarto lugar, seguido do francês, em quinto. O sexto foi o russo, o sétimo, o coreano, o oitavo, o indonésio, e o penúltimo, o árabe. O italiano não consta na pesquisa.
O português é um dos sete idiomas que têm raiz no latim. O mais velho deles, o que pode surpreender a muitos, é o romeno, língua da Romênia, adotado desde o século VI na Península dos Bálcãs. É usado ainda hoje em partes da Moldávia, Ucrânia, na área do delta do Rio Danúbio, e em Vojvodina, território autônomo da Sérvia – que integrava a Iugoslávia. Graças, provavelmente, ao isolamento geográfico, o romeno, das línguas latinas, é a que mais preservou a estrutura do vernáculo do Império Romano, mantendo, inclusive, as declinações, ao contrário das demais.
Eram romenos e escreviam na milenar língua dos dacios, antigos habitantes da atual Romênia, alguns dos grandes nomes das letras e da filosofia europeia do século passado, como Mircea Eliade (1907 – 1986) e Emil Cioran (1911 – 1995) – para além do dramaturgo Eugen Ionescu (1909 – 1994), criador do Teatro do Absurdo. O romeno se assemelha bastante ao italiano, que, aliás, é o caçula dos idiomas latinos, estabelecendo-se, a rigor, com a “Divina Comédia” de Dante Alighieri (1265 – 1321).
O castelhano comemorou em 1978 os mil anos dos primeiros escritos no idioma de Miguel de Cervantes (1547 – 1616) em “Dom Quixote”. São do século IX o francês, o catalão e o galego – os dois últimos são idiomas oficiais de Espanha, segundo a Constituição de 1978, juntamente com o castelhano e o euskera, isto é, o basco.
Os primeiros registros em catalão são do século XII. Sua obra prima é de 1460, “Tirant lo Blanc”, por Joanot Martorell (1413 – 1468) – autor épico como Camões e Cervantes. Já o galego é a língua que daria origem ao português, consolidado na independência de Portugal, em 1139, com a conquista do Condado Portucalense por Dom Afonso Henriques (1109 – 1185).
O idioma falado à época ainda era o galaico-português – ou galego-português. O português escrito só surgiria no Testamento de Afonso II, terceiro rei de Portugal, filho do monarca Sancho I (1154 – 1211), que, por sua vez, era filho de Afonso Henriques. Foram feitas 13 cópias do documento. Existem agora apenas duas. Uma está no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, e a outra, no acervo da Catedral de Toledo – antiga capital da Espanha medieval. As preocupações com a família, vassalos e todo o reino, reveladas no testamento por Dom Afonso II, não parecia indicar, há oito séculos, que a nossa língua seria considerada, neste novo Milênio, uma das mais felizes do mundo.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador