“A repulsa a Bolsonaro e seus agentes precisou de um ano e cinco meses de antigoverno para, enfim, mostrar que não é apenas um sentimento coletivo. Tem corpo, tem vida, pode mover-se e move-se. Com passos iniciais mas decididos, nomes expostos sem temor e já os primeiros atos públicos bem sucedidos em Porto Alegre, São Paulo, Manaus, Rio e outros despertares”, escreve Janio de Freitas na Folha de S.Paulo deste domingo 7/VI.
Segundo ele, “participar ou não das manifestações propostas para hoje, a partir de São Paulo, consumiu discussões cujo resultado só será conhecido já nas ruas. A hipótese, por um lado, de que Bolsonaro se valha do ato opositor para consumar uma rasteira na Constituição, ou faça algo para inculpar os adversários, é confrontada pelo argumento de que tal cautela se estenderia pelo tempo afora, como Bolsonaro continuará antidemocrata”.
Diante disso, “não cabe dúvida alguma de que as liberdades constitucionais da cidadania estão usurpadas. Nessa corrente de delinquência política, militar e institucional, os que se manifestem contra a depravação do regime “são marginais e terroristas”, na qualificação feita pelo ex-tenente terrorista Jair Bolsonaro. Ou “baderneiros”, como prefere vice e general Hamilton Mourão. Só mudam a forma, a procedência é a mesma: o vocabulário assimilado na ditadura, com as ideias”.
E finaliza:
“De volta a ela (ainda?) não estamos. No regime da Constituição democrática já não estamos. Em apenas 17 meses, o que os democratas perderam em cidadania e o país perdeu com retrocessos sociais, econômicos e culturais, é muito mais do que por ora se percebe. Não falta muito mais a perder, caso esmaeça o movimento que se inicia contra o autoritarismo neofascista. Hoje talvez seja um teste, não só para o que ainda existe de regime democrático. Também para militares e milicianos”.
JANIO DE FREITAS ” FOLHA DE S.PAULO” ( BRASIL)