A esposa diz ao marido que da próxima vez em que ele chegasse embriagado ela o expulsaria de casa.
Ele, não acreditando que sua companheira de tantos anos fosse cumprir a promessa, chegou como a mulher não queria.
Dito e feito, ela o arremessou pela janela, enquanto ele bradava na queda:
-E eu não volto mais!
Esta anedota resume bem a reação do establishment político, sobretudo do Centrão, às manifestações do último domingo a favor do presidente Jair Bolsonaro, da Nova Previdência, do pacote anticrime e da MP 870 (reforma administrativa).
As manifestações da nova direita, no domingo, cumpriram todos os objetivos a que se propuseram consciente ou inconscientemente: estabelecer limites ao Centrão e ao STF, e conquistar corações e mentes do mercado para o governo.
Nem massivas e nem um fiasco, suficientes. Mais, deixaria o legislativo e o judiciário por demais reféns. Menos, deixaria o executivo nessa situação. A concorrência do legislativo com o executivo por protagonismo político acabou gerando um paradoxo: quanto mais o ambiente político parece piorar mais ele melhora para os investidores. Com cada poder obrigado a fazer a sua parte, dá-se a harmonia almejada nas teorias constitucionais.
A intenção delas nunca foi melhorar a relação com o Congresso e sim estabelecer um cordão sanitário em torno do governo contra ameaças de cerco e deposição. É bom lembrar que 40% apoiam a relação do presidente com o Congresso e 70% rejeitam o parlamentarismo, segundo pesquisa da XP-Ipespe da última sexta-feira.
Procurar o impacto das manifestações em relação ao parlamento, mirando as reações do mercado, já era perda de tempo, cair um pouco na narrativa do establishment político de que o governo é um “apesar”. Porém, a reação dos investidores foi de animação por as manifestações terem defendido a Nova Previdência. O Ibovespa subiu por obra do governo, o que não ocorria há tempos.
O Centrão ficou sem narrativa, embasbacado com o tema ter sido bandeira de rua (procure e você acha no Google uma foto de Carlos Bolsonaro com camisa de Margareth Tatcher, tente fazer o mesmo com Marcelo Ramos, presidente da comissão especial da Câmara da reforma). O fato, é que as ruas e as redes do espectro social conservador deixaram o Centrão de joelhos. O mercado não acredita mais que o governo é o único responsável por qualquer percalço nas reformas e outras pautas econômicas, então só resta ao parlamento blindar a agenda da economia, conversar com o governo caso a caso (porque há os expedientes de sanção|veto presidencial, por exemplo), e tentar fomentar um campo eleitoral alternativo à nova direita, que também tenha simpatia do mercado, para restabelecer o presidencialismo de coalizão.
Após a demonstração de força Bolsonaro falou em “paz” e “pacto”, em entrevista de domingo à noite na Record. Após, claro, interpretar as manifestações como recado às “velhas práticas”. A centro-direita tradicional será contra? E o toma lá dá cá, só much ado about nothing?
LEOPOLDO VIEIRA ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)