CHARGE DE NALDO MOTTA
A humanidade está vivendo momentos dolorosos e inéditos em escala mundial. O Coronavírus está deixando milhares de mortos e infectados, além de profundas mudanças nas relações pessoais, nacionais e internacionais, provocando o colapso do sistema econômico mundial, gerando a incerteza do hoje e do amanhã, que alterou a vida e as relações sociais, culturais, religiosas e políticas.
Devemos pensar em como estamos passando pela quarentena da pandemia incessante que o mundo está sofrendo em cada país até o momento, com as relações e comportamentos familiares alterados, gerando em muitos casos angústia e problemas psicológicos em sociedades marcadas pelas políticas neoliberais onde se impôs o individualismo, as privatizações e a dívida externa impagável e injusta, e não a solidariedade. O encerramento de negócios e empresas provocou demissões de seus trabalhadores e os pobres ficam mais expostos à grave situação em que vivem.
Um jovem que vive em situação de risco social disse: o governo diz que devemos ficar em la casa sem sair para evitar o contágio com o coronavírus, minha “casa é a rua”, onde vivo e onde me encontram a noite e as necessidades para sobreviver. A desigualdade e a pobreza marcam nossa sociedade injusta. Devemos somar vontades e fortalecer as políticas públicas para superar a grave situação sanitária e social.
É preocupante o aumento da violência familiar e social, o individualismo e comportamentos de vizinhos que discriminam e ameaçam trabalhadores e trabalhadoras da saúde, que estão contribuindo em hospitais e centros sanitários enfrentando a epidemia do Coronavírus.
O presidente Alberto Fernández foi muito claro ao tomar decisões que devemos acompanhar; disse: a economia se pode recuperar, uma vida não”… têm prioridade a vida e a saúde do povo, e os fatos vão demonstrando que é o caminho correto. Os governadores e prefeitos estão atuando na mesma direção somando esforços e vontades.
É necessário superar a “Pandemia do Medo”, saber que o medo paralisa, e que o medo está a um passo da covardia, ainda mais quando as ameaças contra trabalhadores/as da saúde são anônimas e se chega à perda de valores e da solidariedade.
Devemos lembrar que ninguém se salva sozinho, necessitamos do apoio do povo e do esforço solidário de pessoas e organizações que trabalham para o bem do próximo.
Lembro-me de um querido amigo e companheiro de caminhada pela América Latina, Eduardo Galeano, que pergunta: qual é a palavra mais usada no mundo? A resposta é: a palavra mais usada é “EU…eu…eu…eu.”
Nos esquecemos de NÓS. É necessário mudar esse pensamento e atitude e vencer o medo para nos reencontrar como irmãos e irmãs, compartilhar o pão e a liberdade e saber que os problemas que nosso povo vive afeta a todos e todas nós.
É preciso superar o individualismo e começar a nos olhar, nos reconhecer como iguais e agradecer a médicas/os, a trabalhadores/as do transporte, a varredores/as, a fornecedores, a forças de segurança, organizações sociais e igrejas, a voluntários/as, os quais, arriscando sua própria segurança, estão presentes lutando contra a Covid 19 e os medos, e assumem a responsabilidade de servir ao povo.
São símbolos de solidariedade e esperança da unidade na diversidade. Lembro-lhes a canção de Fito: “Nem tudo está perdido, eu venho para oferecer-te meu coração…” Muitos artistas a partir de suas casas compartilham suas canções com os vizinhos, os meios de comunicação somam seus esforços para a campanha de esclarecimento sobre as medidas necessárias para a saúde da população, e os jornalistas que dia a dia compartilham a informação.
Quero pedir às pessoas dominadas pela “pandemia do medo”, não com palavras, mas com fatos concretos que ajudem ao próximo e tenham claro que nos ajudamos a nós mesmos. Saber que os problemas e dificuldades que vive o país são muitos mas podemos superá-los se somamos vontades.
Há aqueles que, dominados pela pandemia do medo e a cegueira política, criticam que o governo da Província de Buenos Aires tenha solicitado a Cuba a presença de 200 médicos/as, e como sempre Cuba responde solidariamente a Argentina e outros países no mundo, e devemos agradecer-lhes a fraternidade e presença de sempre.
Luther King, que lutou pelos direitos civis junto a seus irmãos de cor nos EUA e deu sua vida para dar vida, disse: “Se o mundo termina amanhã, hoje mesmo vou plantar minha macieira”.
E quero compartilhar a experiência de um músico de rua que, com seu acordeon, canta nos trens os tangos tradicionais, mas entre um tango e outro levanta a bandeira da vida e da esperança: “Só o amor salvará o mundo…”. Superem a pandemia do medo pondo o amor em ação.
ADOLFO PÉREZ ESQUIVEL ” BLOG 247″ ( BRASIL)
Ativista de direitos humanos argentino, Nobel da Paz de 1980