OS LUSOS ATERRORIZADOS NA ÁFRICA DO SUL

São portugueses muitos dos maiores vultos da Era dos Descobrimentos que marcaria o universalismo da Coroa de Lisboa, a partir do século XV, quando, desde Sagres, no Algarve, o Infante Dom Henrique de Avis (1394 – 1460), O Navegante, organizou as expedições marítimas que conduziriam os europeus a todos os continentes. Um deles foi o algarvio Bartolomeu Dias, que conseguiu a façanha de ultrapassar, em 1487, o Cabo das Tormentas, denominado, depois, Cabo da Boa Esperança – onde seria estabelecida, em 1652, a sul-africana Cidade do Cabo, pelo holandês Jan van Riebeeck (1619 – 1677).

Outro herói foi o alentejano Vasco da Gama que, em 1497, à caminho da Índia, após superar as águas revoltas do ponto mais meridional das Áfricas, entraria no Oceano Índico e, ainda na costa sul-africana, ancoraria e fundaria com o nome de Natal a cidade de Durban, na qual, por sua vez, passaria a infância e adolescência um ilustríssimo lusitano, o lisboeta Fernando Pessoa (1888 – 1935), um dos notáveis poetas do século XX em todo o mundo.

Justamente na África do Sul, hoje, o terror de um verdadeiro genocídio atemoriza as populações brancas. São, em grande parte, africâneres, originários dos neerlandeses Bôeres, adeptos da Reforma calvinista, representando cerca de 15 por cento da população de 58 milhões, e a comunidade portuguesa, calculada em torno de 500 mil pessoas, entre os nascidos em Portugal e seus descendentes. A onda de intolerância que varre a África do Sul, nas cidades e no interior, já matou perto de 500 portugueses nas últimas duas décadas – forçando a fuga de inúmeras famílias para outros países.

A maioria dos portugueses é proveniente da Ilha de Madeira e a emigração teve início nos anos 1930, mesmo período em que milhares de madeirenses também se transferiram para São Paulo e Venezuela, sobretudo à capital Caracas.

Têm sido constantemente assaltados e assassinados comerciantes lusos. Principalmente na Província de Guateng, onde está a capital Pretória e a maior cidade do país, Joanesburgo, com 4,5 milhões de habitantes. Concentra-se em Guateng boa parcela dos portugueses, muitos dos quais, inclusive, tiveram que renunciar à nacionalidade europeia, com o fim do Apartheid e a chegada ao poder da maioria negra, para renovar a licença de seus negócios comerciais, quase sempre mercadinhos, conhecidos, ali, genericamente por ‘cafés’.

Portugueses são igualmente atacados em Rustenburg, próxima a Pretória e Joanesburgo, bem como na Cidade do Cabo, o centro turístico do país e, por isso, chamada de ‘Cidade Maravilhosa’, a exemplo do Rio de Janeiro, para além de Port Elizabeth e a Durban, do Almirante do Alentejo e de Pessoa. Diversas são as marcas da presença lusitana.

Como a maior rede de fast food sul-africana, o Nando’s, famoso pelo delicioso frango apimentado, receita da antiga colônia de Moçambique, com restaurantes em vários países, especialmente no Golfo Pérsico – e também na inglesa Londres. Um dos mais completos jornais em língua portuguesa, fora do universo das nações de idioma camoniano, é, sem dúvida, o semanário O Século de Joanesburgo (assim grafado), criado em 1963, que circula às segundas-feiras.

Quanto aos Bôeres são, invariavelmente, agredidos no campo, em fazendas que possuem há dois séculos nas áreas das outrora repúblicas holandesas de Orange e do Transvaal, próximas a Moçambique. Haviam se fixado, inicialmente, nos séculos XVII e XVIII, na Cidade do Cabo. Mas, no começo do século XIX, foram expulsos pelos britânicos. O temor agora é de um novo Apartheid – com a supressão das minorias brancas como vendetta pelos anos em que os negros viviam em bairros separados. Algo impensável por Nelson Mandela (1918 – 2013), fundador, em 1994, da sociedade multirracial sul-africana.

ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)

Albino Castro é jornalista e historiador

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