Há dois grupos de incertezas. O primeiro é a duração e extensão da pandemia. O segundo, o balanço dos estragos provocados e as estimativas sobre a recuperação da economia.
Um dos pontos centrais, na operação da economia, é a previsibilidade, a capacidade de avaliar o que acontecerá com a economia nos próximos anos. É o que destrava investimentos, tira as empresas da retranca, estimula a volta do emprego.
Hoje em dia, no entanto, há um conjunto inédito de incertezas em relação aos efeitos econômicos da pandemia.
Há dois grupos de incertezas.
O primeiro é a duração e extensão da pandemia. O segundo, o balanço dos estragos provocados e as estimativas sobre a recuperação da economia.
O controle da pandemia é pré-condição para o desenho de qualquer cenário econômico. Em relação à pandemia, as incertezas são da seguinte ordem:
Falta de informações – não se tem o básico, os testes capazes de mapear a extensão da doença, o tempo necessário de confinamento, o tempo necessário para aparecer uma vacina. Então não há elementos sequer para avaliar as consequências das boas e más políticas, do timming do isolamento e da flexibilização, do ritmo de reconversão da indústria, da distância entre os anúncios de liberação de recursos e o que chega na ponta.
Falta de coordenação – nas pandemias anteriores, havia uma coordenação federativa entre União, estados, SUS, setor privado, institutos de pesquisa, universidades federais. Nos últimos anos ocorreu um desmonte, iniciado no governo Temer e que prosseguiu no Bolsonaro. Não há planejamento sistêmico para a reconversão da indústria e para a saída do isolamento. Corre-se o risco de cidades até agora poupadas serem contaminadas afetando os municípios vizinhos. É impossível estimar esses desdobramentos.Leia também: Após derrotas de Bolsonaro no STF, Toffoli defende proteção da Corte em pandemia
A natureza da pandemia – Sequer se sabe se, a exemplo das gripes, a pandemia voltará a cada ano ou não. Há exames mostrando que alguns infectados não apresentaram mais anticorpos – demolindo a esperança de que quem pegou uma vez conseguiu uma vacina natural.
Em cima dessa insegurança central, vêm desdobramentos de toda ordem:
Desdobramentos políticos – nas próximas semanas haverá um agravamento das mortes, do desemprego, das necessidades das populações vulneráveis. Ao mesmo tempo, os grupos de fanáticos do bolsonarismo têm sido cada vez mais ousados, não se descartando a possibilidade de ações armadas, principalmente se começar uma ação efetiva contra Bolsonaro.
Comércio internacional – não há clareza sobre os preços das commodities – essenciais para a balança comercial brasileira -, nem sobre o comércio internacional. Além disso, os movimentos dos Bolsonaros contra a China terão como consequência a diversificação nas compras de soja pelo parceiro, para não ficar vulnerável a um país cujo governo é totalmente submisso à logica de Donald Trump.
Cadeias globais de valor – o coronavirus revelou a extraordinária vulnerabilidade dos países que perderam o controle sobre as cadeias produtivas, terceirizando para a Ásia. Haverá um movimento de trazer de volta empresas, de mudar o perfil dos fornecedores, de proteger o mercado interno, com impactos ainda não avaliados sobre a economia brasileira.
Crise das empresas – também levará tempo para se avaliar corretamente os impactos do coronavirus na economia brasileira. Haverá um morticínio das pequenas e micro empresas, especialmente no setor de comércio. Até agora, o governo não desenvolveu um programa eficiente sequer de sustentação do emprego, da demanda familiar e do capital de giro das empresas. E ainda não se sabe quais grandes grupos resistirão a esse terremoto.Leia também: Pré-história, pós-pandemia e o que virá, por Mauro Luis Iasi
O plano Marshall – a rigor, a única notícia positiva foi a constituição de um grupo de trabalho visando recuperar as obras públicas e as concessões, deixando em segundo plano a equipe econômica de Paulo Guedes. Há uma quantidade gigantesca de obras interrompidas, alvejadas pela irracionalidade terraplanista dos órgãos de controle que, a exemplo da inquisição, queimam obras e empresas, em vez de punir apenas pessoas.
Haverá uma recuperação do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), bancos públicos, Petrobras e Eletrobras como peças centrais desse plano. Se houver abertura para chamar quem conhece do tema, técnicos do BNDES, da Caixa Econômica, gestores do Planejamento, do IPEA, haverá alguma esperança.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)