Os generais que cercam o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto convenceram o chefe do Executivo de que o único meio de melhorar seu relacionamento com o Congresso será através de uma reforma ministerial.
Nessa reforma, há duas peças a serem jogadas.
A primeira, um aceno aos partidos de que o Planalto quer participar da sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) como presidente da Câmara. O relacionamento de Maia e Bolsonaro é considerado insustentável.
Bolsonaro está disposto a distribuir cargos no governo. O presidente começou, inclusive, uma rodada de encontros com presidentes de partidos. Hoje ele se reúne com o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP). Amanhã, com o presidente do DEM e prefeito de Salvador, ACM Neto.
A segunda peça a ser jogada na reforma ministerial é o esvaziamento da pasta da Economia, comanda pelo Posto Ipiranga Paulo Guedes, cuja política recessiva já não vinha dando certo, segundo os militares, e pode ser desastrosa em tempos de pandemia do coronavírus.
O primeiro passo está sendo obrigar Guedes a engolir um grande plano de investimentos com incentivo estatal, apelidado de “Plano Marshal”.
O plano terá forte influência do ministro-chefe da Casa Civil, general Braga Neto, e do Ministério da Infraestrutura, Tarcisio Gomes de Freitas.
A seguir, a ideia é esvaziar a pasta de Guedes de outras atribuições, inclusive com a divisão de seu Ministério. Há duas ideias em jogo.
A tese que tem mais força, no momento, é a de recriar o Ministério do Trabalho e oferecer o comando ao PTB, presidido por Roberto Jefferson (RJ).
O ex-deputado foi cassado e condenado no processo do mensalão, com pena reduzida por colaboração premiada ao delatar o esquema.
Quando líder do partido na Câmara, teve entre seus liderados o então deputado Jair Bolsonaro, com quem estabeleceu uma relação amigável.
Hoje, Jefferson é um forte aliado de Bolsonaro e exaltado nas redes sociais bolsonaristas. Está acusando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de urdir um golpe parlamentarista contra o chefe do Poder Executivo.
O PTB era o partido do ex-presidente Getúlio Vargas, criador do Ministério do Trabalho. Nos governos a que se aliou, a legenda historicamente reivindicou a pasta do Trabalho.
A outra tese em discussão em torno do esvaziamento do Ministério da Economia é a recriação da pasta do Planejamento. Mas isto mesmo os militares só acreditam ser possível se Paulo Guedes deixar o cargo. O que também já não consideram impossível.
Os auxiliares de Bolsonaro no Planalto estão convencidos de que não foi uma boa ideia estabelecer um comando único no governo para toda a área de economia.
O início do esvaziamento de poder de Guedes ocorreu com a posse do ex-deputado tucano Rogério Marinho como ministro do Desenvolvimento Regional, no lugar de Gustavo Canuto.
Marinho foi secretário especial de Previdência, apontado como o principal articulador dentro do governo da reforma no sistema de aposentadorias, graças às suas ligações com o Congresso.
Foi ele quem convenceu o Planalto e a área econômica a deixar os detalhes da reforma a ser aprovada nas mãos dos líderes partidários, sob o comando de Rodrigo Maia e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
O texto proposto por Paulo Guedes foi completamente alterado, mas aprovou-se um corte de gastos próximo do R$ 1 trilhão que ele havia pedido.
Canuto, homem da confiança e Guedes de quem os políticos reclamavam por atrasar o atendimento de pleitos, foi transferido para o segundo escalão. Passou a gerir a Dataprev.
TALES FARIA ” SITE DO UOL” ( BRASIL)