Uma das consequências dessa novela sem fim que envolve Bolsonaro e Mandetta foi a revelação, de forma explícita, de que os quatro generais mais próximos ao presidente estão dando a palavra final nos assuntos mais importantes da República, apitam mais até que os três príncipes herdeiros, o que é um feito nas atuais circunstâncias.
Foram eles que, na segunda-feira retrasada barraram a iminente demissão do ministro da Saúde, sinal de que eles podem, ao contrário da maioria dos ministros, contrariar o presidente e até fazê-lo mudar de opinião.
Também foram eles que, ontem, deram sinal verde para Mandetta ser demitido, porque entenderam que ao dar entrevista ao “Fantástico” ele quebrou a hierarquia.
Como o Palácio do Planalto já é, a essa altura, mais um quartel-general que o coração do governo civil, as regras que valem lá dentro são as regras militares e a quebra de hierarquia é pecado mortal, já que militar só tem duas coisas a fazer: obedecer a quem está hierarquicamente acima dele e mandar em quem está abaixo.
Agora, quem está ficando desse tamaninho nessa crise toda é o Bolsonaro.
Não dá mais para negar que ele depende dos quatro generais do Planalto para tomar decisões fundamentais e todo mundo sabe que chefe que tem que ter aval de subalterno para demitir outro subalterno, não é chefe, é subalterno de seus subalternos.
Vai de mal a pior, portanto, o suposto chefe do estado brasileiro, que começou a sua derrocada ao virar garoto-propaganda de uma droga por ele apresentada como panaceia (como faz todo garoto-propaganda), mas cujo desempenho no Brasil e no mundo mostra que, em alguns casos, ela ajuda a salvar, mas, em outros, ajuda a matar.
Além de pisar nesse terreno pantanoso, no qual nenhum mandatário mundial ousa pisar (faz tempo o Trump não toca no assunto), Bolsonaro perdeu musculatura política ao se expor e expor outras pessoas à contaminação, por mais de uma vez, protagonizando cenas inéditas em todo o mundo civilizado.
Outro sinal de fraqueza é que ele não consegue impor o seu comando ao combate ao vírus (que é totalmente estúpido, é claro) nem ao seu ministro da Saúde e ao mesmo tempo não o manda para casa.
Claro que eu não gosto desse fortalecimento dos generais, por mais que eles sejam mais inteligentes, cultos e menos lunáticos que o presidente, porque a vida militar é incompatível com a vida política, as duas não coexistem, uma acaba se impondo à outra, e sabemos quais das duas tem mais “argumentos” para se impor.
ALEX SOLNIK ” BLOG 247″ ( BRASIL)