“Delineia-se, para o cenário pós-pandemia, uma geopolítica fortemente condicionada por sistemas nacionais produtivos centrados na aquisição de autonomia estratégica.
O coronavirus está penetrando não apenas nos organismos das pessoas, mas varrendo como um furacão ideias e conceitos estratificados.
Uma os pontos que já alertamos, será a recuperação do conceito de segurança nacional, focado agora nas prioridades corretas: saúde, energia, indústria.
Fica claro no trabalho Geopolítica e Capacidades Nacionais de Defesa: um olhar sobre o cenário emergente em tempos de pandemia”, de Hélio Caetano Farias, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares (PPGCM) do Instituto Meira Mattos (IMM) da Escola de Comando e Estado-Maior (ECEME) e o coordenador acadêmico do Observatório Militar da Prata Vermelha e do Grupo de Pesquisa “Geopolítica, Defesa e Desenvolvimento” (CNPq).
Em seu trabalho ele cita o terceiro pilar da Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos, de 2017, o “Preserve Peace Through Strenght” (https://tinyurl.com/qnc45cc), “Preservas a Paz Através da Força”. “Reexaminá-lo, em tempo de combate à pandemia do coronavírus, proporciona algumas pistas sobre as tendências da geopolítica global e sobre os desafios ao Brasil”.
O trabalho menciona as vulnerabilidades dos países ante o coronavirus, especialmente nas dificuldades de importação de equipamentos médicos. Os confiscos de mercadorias pelos EUA foram precedidos pela flexibilização de normas para atração de médicos e de força de trabalho qualificado. Ou seja, disputam-se não apenas produtos, como força de trabalho. E, em 18 de março, a aplicação da Lei de Produção de Defesa, obrigando as empresas norte-americanas a atenderem às demandas emergenciais. A lei é da década de 1950, no contexto da Guerra da Coreia.Leia também: A desmoralização do MPF eleitoral, pela decisão de Brill de Goes de fechar o PT
O autor mostra que o documento demonstra qe defesa e desenvolvimento produtivo são dimensões indissociáveis. “A capacidade das Forças Armadas de responderemos demandas está diretamente relacionada à existência de um sistema produtivo nacional robusto e diversificado”.
Um dos fatores de vulnerabilidades dos EUA foi a redução da participação do setor produtivo na composição da riqueza norte-americana.
“Nas últimas duas décadas, o processo de desindustrialização se acentuou. Identificou-se uma redução das capacidades das empresas, e de suas cadeias de suprimentos internacionalizadas, de atenderem aos requerimentos estratégicos da Defesa (DoD, 2018). Com o sistemático enfraquecimento do sistema produtivo norte-americano, a demanda por profissionais qualificadas também se reduziu”.
Mencionando José Luiz Fiori, o trabalho ressalta que a nova estratégia dos EUA “desloca-se das aspirações por uma globalização liberal para concentrar-se em um realismo pragmático”. Segundo o documento, as principais ameaças aos EUA seriam o crescimento da competição com a China e a Rússia “nas dimensões política, econômica e militar”. E o ponto central é “a projeção de poder com as potencialidades de seus sistemas nacionais produtivos”.
As conclusões são taxativas:
“Delineia-se, para o cenário pós-pandemia, uma geopolítica fortemente condicionada por sistemas nacionais produtivos centrados na aquisição de autonomia estratégica. Um sistema internacional crescentemente desafiador, em que coexistirão determinadas características da globalização – suas redes financeiras, de produção e de comunicação – com as exigências cada vez maiores para que os sistemas produtivos nacionais atendam às demandas de Segurança e Defesa. Os desafios para os países periféricos como o Brasil não serão poucos e nem simples. Eles serão objeto de um novo texto para este OMPV. Por ora, entretanto, é prudente lembrar da observação de Nicholas Spykman (1942, p. 25) de as guerras no sistema internacional, apesar de indesejáveis, não podem ser ignoradas, fazer isso é cortejar com o desastre”.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)