A HORDA NAZIFASCITA DESFILA EM CARREATA DA MORTE

CHARGE MIGUEL PAIVA

Quem viu na internet as imagens macabras de uma horda nazifascista desfilando pelas ruas de São Paulo, na véspera da Páscoa, com seus carrões importados, caminhões novos e motos envenenadas, pode ter-se lembrado de filmes de época em branco e preto, que mostravam a tomada do poder na Alemanha dos anos 30 por um suboficial alucinado que queria declarar guerra ao mundo.

Enrolados na bandeira brasileira, os dementes não se vexaram em impedir a passagem de ambulâncias com as sirenes ligadas, na avenida Paulista, a região onde se concentram vários hospitais, lotados de vítimas da pandemia de coronavírus.

Guardando-se as devidas proporções, pois aqui o terror se misturava ao ridículo e ao grotesco, por algumas horas a maior cidade do país serviu de palco neste sábado a um dos espetáculos mais deprimentes já encenados pelos bolsominions em fúria, como se fossem soldados das SA (Sturmabteilung) e das SS (Schutzstaffel), as tropas de assalto nazistas.

Bradavam contra a China, a Globo e o governador paulista João Doria, os inimigos da hora. Para essa gente, somos todos, os que não aderimos à nova ordem miliciano-militar, um bando de judeus comunistas, que precisam ser varridos da terra santa do bolsonarismo.

Às margens do desfile de malucos que atravessou a cidade, gritando e buzinando, o povo bestificado não entendia o que estava acontecendo e os policiais a tudo apenas assistiam placidamente, sem intervir na desordem patriótica.

Em Águas Claras, cidade próxima a Brasília, onde foi inspecionar o início das obras de um hospital de campanha, o líder dos devotos enfurecidos, um tenente que foi defenestrado do Exército e virou capitão, desafiava o seu ministro da Saúde e seguia caminhando solerte, sem máscara, cumprimentando e abraçando quem encontrava pela frente. .

Na cena mais patética do dia, antes de embarcar no helicóptero para voltar a Brasília, o presidente ainda em exercício ficou mais um tempão acenando para ninguém no descampado onde será montado o hospital.

Misturando filme de terror com chanchada, o líder de fancaria e seus devotos da política suicida de enfrentamento da pandemia com um remédio milagroso, orações e jejum, querem que nesta segunda-feira todos voltem às ruas e reabram suas lojas para levar uma “vida normal”, enquanto se multiplicam nas estatísticas fúnebres os números de mortos e contaminados, no momento mais agudo da proliferação do coronavírus.

As embaixadas da Alemanha e de outros países europeus que enfrentaram os horrores da Segunda Guerra, e sabem o que pode acontecer aqui, já pediram que seus cidadãos deixem o Brasil o mais rapidamente possível.

E nós, que não temos para onde fugir, com nossas instituições em obsequioso silêncio, até quando vamos resistir, sem reagir, a essa escalada insana das SA e SS nativas, comandadas pelo “gabinete do ódio” do clã presidencial?

Vida que segue.

RICARDO KOTSCHO ” SITE DO UOL” ( BRASIL)

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