“A hora dele não chegou ainda, não… vai chegar a hora dele”.
Parecia uma fala ameaçadora de Zeca Diabo, o pistoleiro do prefeito Odorico Paraguaçu, de “O Bem-Amado”, que eu tinha assistido alguns minutos antes, mas foi o que o presidente Bolsonaro disse a um grupo de evangélicos, dentre os quais seu “irmão”, o deputado conhecido por Hélio Negão e o ministro Luiz Eduardo Ramos, ontem à tarde, nos jardins do Palácio da Alvorada.
Tudo filmado e devidamente disseminado.
“Tem algumas pessoas no meu governo… algo subiu na cabeça deles… estão se achando… eram pessoas normais, mas, de repente… viraram estrela… e… falam pelos cotovelos… tem provocações…”, disse também, sem que alguém tivesse perguntado, com cara de poucos amigos.
Bolsonaro encerrou seu monólogo sem papas na língua:
“A minha caneta funciona… não tenho medo de usar minha caneta… e ela vai ser usada para o bem do Brasil”.
Eles estavam em meio ao jejum nacional contra o coronavírus, proposta surreal do presidente para acabar com a maior epidemia dos últimos 100 anos, digna do tresloucado prefeito de Dias Gomes vivido por Paulo Gracindo, razão pela qual não há dúvida a respeito de para quem era o recado.
Suas palavras foram acompanhadas por muitos “améns”.
Ou seja: o jejum era contra o vírus e contra o ministro Mandetta.
Para completar, um tuíte obsceno de Olavo de Carvalho, digno de banheiro de secundaristas, proclamava, também no domingo: “Fora, dr. Punhetta”.
Não há dúvida de que o presidente vai tentar de todas as formas boicotar o trabalho do ministro da Saúde.
E os ataques e as humilhações só tendem a crescer para forçá-lo a se demitir.
ALEX SOLNIK ” BLOG 247″ ( BRASIL)