Guedes mostrou uma incapacidade única de montar e liderar equipes racionais. Seu terraplanismo é equivalente ao de Jair Bolsonaro, com exceção do histrionismo, campo no qual o presidente é imbatível.
A economia de guerra adotada por muitos países, já gerou um bom estoque de sugestões e exemplos.
Tem-se um desafio complexo:
- As pessoas precisam ser mantidas em quarentena até passar o pico do coronavirus.
- Nesse período, a atividade econômica desaba e o desemprego se alastra.
- Com mais desemprego, haverá mais vulnerabilidade social e menos consumo ainda.
- Por outro lado, se se afrouxar as regras de combate ao vírus, haverá uma crise sanitária nacional (como na Itália) com reflexos muito mais desastrosos na economia.
- Passada a pandemia, em caso de desemprego em massa, haverá enormes dificuldades das empresas em reconstituir sua força de trabalho e retomar a produção.
Olhando a situação de forma sistêmica, o que os países mais adiantados estão fazendo?
Redução do risco dos bancos
Com as incertezas trazidas pelo coronavirus, a risco de crédito tornou-se muito grande. A maneira encontrada pela França foi minimizar o risco bancário. Dependendo do prazo de concessão, o banco público francês garante até 90% do financiamento concedido. Mantém-se a capacidade do banco privado em analisar o crédito, amplia-se o escopo, com a redução do risco bancário.
Complementação de folha
Demissão de funcionários é um transtorno para empresas. Jogam-se fora investimentos em treinamento, o clima de solidariedade interno dificultando enormemente a retomada da produção. O que governos vêm fazendo é bancar parte do custo do trabalhador que teve as atividades suspensas.
Renda mínima
O óbvio ululante! Em um país em que o mercado de trabalho foi jogado na informalidade pelas últimas mudanças nas leis trabalhistas, a única maneira de amparar os autônomos, os desempregados e os que vivem de bico, mantendo-os em casa, é com a renda mínima.
Paulo Guedes paralisado
Além de todos os problemas conceituais e gerenciais, o Ministro da Economia Paulo Guedes mostrou uma incapacidade única de montar e liderar equipes racionais. Seu terraplanismo é equivalente ao de Jair Bolsonaro, com exceção do histrionismo, campo no qual o presidente é imbatível.Leia também: Guedes e empresários insistem em suspender contratos de trabalhadores
Ontem, o Jornal Nacional fez uma edição histórica, superando seus preconceitos ideológicos e econômicos. Mostrou todas as associações médicas defendendo a quarenta horizontal e economistas que, nas últimas décadas ficaram na linha de frente do fiscalismo mais inóspito, defendendo aumento de gastos e proteção aos mais fracos.
Há uma razão de ordem solidária e outra de ordem econômica. Se se abrir a guarda – como fez a Itália – e a pandemia se espalhar, além dos traumas pessoais e políticos, a economia sofrerá muito mais do que está sofrendo agora.
Quando se olha para a equipe de Guedes, no entanto, é um deserto de iniciativas e de sensibilidade econômica e política.
Nem se diga do presidente do Banco do Brasil, Rubens Novaes, o puxa-saco clássico. Se Bolsonaro critica uma campanha do banco – por ser excessivamente liberal -, Novaes sai correndo para concordar. Ontem, depois do pronunciamento de Bolsonaro, conclamando ao fim da quarenta horizontal, saiu correndo para apoiar. É um caso clássico de vergonha alheia.
O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, é outro caso crônico desses tempos de escuridão. Técnico do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) sem nenhuma obra mais relevante, ganhou destaque nas hostes bolsonaristas quando se converteu em um militante obcecado, a ponto de provocar arruaças na Câmara e ser detido pelos seguranças. No governo, inventou um dos álibis mais desmoralizantes para explicar o mau desempenho da economia, o tal PIB do setor privado. Ontem, em reunião com empresários, fez questão de salientar a relevância de não desequilibrar as contas púbicas e de não tomar nenhuma medida definitiva.Leia também: O Fantasma da fome que nos assombra: do isolamento à segregação social, por Antonio Hélio Junqueira
O Secretário do Tesouro Nacional, Mansueto de Almeida, notabilizou-se por repetir à exaustão, os mantras da mídia para economia, o corte indiscriminado de gastos, o ajuste fiscal a qualquer preço, independentemente dos efeitos deletérios sobre receita fiscal.
É o que explica, em parte, o fato de Paulo Guedes não ter aprovado nenhuma medida relevante, até agora, para o enfrentamento da pandemia social. Não avançou na liberação da merreca de 200 reais para informais, nas linhas para PMEs.
A outra explicação é a total falta de conhecimento sobre os dutos por onde os recursos públicos podem chegar na economia.
O fato óbvio é que ele se tornou tão deletério para a economia quanto seu chefe para a saúde.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)