NO “REINO DO MESSIAS DE REALENGO”

CHARGE DE NANDO MOTTA

Os jornais de hoje estão recheados de artigos sobre a pantomima de ontem , o bal masqué de Bolsonaro e dos ministros que arrebanhou para o espetáculo.

Muitos deles, escritos por cúmplices desta loucura a que foi levado o Brasil e que, escandalizados, não conseguem fazer a autocrítica que tão severa e repetidamente exigem de outros.

A melhor e mais sucinta descrição do espetáculo, porém, é feita do um que jamais foi leniente com o absurdo, Bernardo Mello Franco, n’ O Globo.

A ele, entretanto, devo acrescentar uma observação: há um lado bom neste pastelão: ele retrai e atrasa os impulsos golpistas do presidente, hoje mais perto de ouvir um “pede pra sair”.

O pastelão e as panelas
Bernardo Mello Franco, n‘O Globo

A cena de Jair Bolsonaro tapando os olhos com uma máscara cirúrgica, em tentativa desastrada de cobrir o nariz e a boca, produziu uma boa alegoria do drama brasileiro. Assombrado pela pandemia do coronavírus, o país se vê nas mãos de um sujeito que não consegue proteger o próprio rosto.

O pastelão do Planalto lembrou um quadro dos Trapalhões. A pretexto de mostrar preocupação com a doença, o capitão e seus ministros se fantasiaram de médicos. O uso cenográfico das máscaras contrariou as normas sanitárias. Em outro momento Didi Mocó, Bolsonaro desistiu do teatro e pendurou sua peça na orelha.

O presidente dedicou a maior parte da entrevista a atacar a imprensa e provocar adversários. Um dos alvos foi o governador do Rio, que pediu ao povo que evitasse a praia. O capitão também insistiu no discurso de que a mídia fomenta a “histeria”. Uma afronta a jornalistas e profissionais de saúde que tentam informar a população e reduzir a velocidade do contágio.

O jogo de Bolsonaro é outro. Ontem ele mentiu diante das câmeras ao negar que tenha incentivado as manifestações do último domingo. Para seu azar, a farsa foi derrubada em tempo real. Além de distribuir convocações pelo WhatsApp, ele usou uma solenidade militar para estimular a participação nos atos.

Ao comentar as marchas, que contrariaram o esforço para evitar aglomerações, o capitão disse que “sabia dos riscos que corria”. Esqueceu de dizer que também pôs a saúde dos outros em xeque. Ao furar a norma de isolamento, ele ainda não tinha a contraprova do exame para saber se estava infectado.

Num surto de sinceridade, Bolsonaro admitiu a falta de estrutura para enfrentar a pandemia. “Nosso sistema de saúde não tem condições de atender uma quantidade considerável de pacientes”, disse.

Em seguida, voltou a fazer propaganda de si mesmo. “Nosso time está ganhando de goleada. Então vamos fazer justiça, vamos elogiar seu técnico, que se chama Jair Bolsonaro”, pediu. Pelo volume dos panelaços em diversas capitais, faltou combinar com a torcida.

FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)

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