O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, parece ser o mais novo alvo do presidente Jair Bolsonaro, em plena crise da pandemia da COVID-19, que ainda está apenas no começo, neste País. Até o momento, não se tinha notícia, em todo mundo, de qualquer nação, atingida pela doença, cujo governo esteja dividido por causa de rixas político-ideológicas ou vaidades feridas. É o caso do Brasil. E isso é extremamente grave, porque pode obstaculizar os esforços do governo federal no sentido de combater a moléstia.
É possível temer o pior, até mesmo em relação aos países mais atingidos, como Itália e Espanha, porque, além de ter que enfrentar talvez seu desafio civilizatório mais difícil, que é a pandemia do coronavirus, o Brasil tem uma tempestade perfeita pela frente. Ou seja, além da calamidade, há uma profunda crise política e institucional em curso, com o presidente da República em guerra contra as instituições – em especial, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) –, buscando um golpe para implantar a ditadura Bolsonaro.
A perseguição contra o ministro da Saúde, por parte do presidente, é apenas mais um sintoma desta guerra declarada pelo Palácio do Planalto contra os demais poderes constituídos, mesmo neste momento de emergência nacional, no qual poderão morrer muitos brasileiros e a economia corre o risco de entrar em colapso. O ministro teria caído em desgraça com Bolsonaro porque, segundo o noticiário, se reuniu e concedeu uma entrevista coletiva com o governador de São Paulo, João Dória, ex-aliado bolsonarista, agora grande inimigo.
Mente pequena
O presidente teria ficado indignado ao ver Mandetta ao lado de Dória, diante dos holofotes, falando para todo o País. Bolsonaro não se deu conta de que seu subordinado o fez porque era necessário se reunir, com o governador do estado mais atingido pela COVID-19, e divulgar medidas do governo federal para conter a crise. Em sua mente pequena, o atual inquilino do Planalto, se viu traído, afinal, Dória se tornou adversário, e jamais poderia dividir as atenções ao lado de alguém que julga subalterno.
Pelo visto, Bolsonaro ainda não demitiu Mandetta porque se viu refém das circunstâncias, pois o ministro tem sido amplamente elogiado por sua postura e suas atitudes desde o início da grande crise sanitária do momento. Aliás, a competência, o senso de compromisso público e a capacidade de liderança demonstrados pelo ministro, até agora, parecem ter sido seu pior pecado aos olhos de Bolsonaro, sentindo-se diminuído e enciumado diante do desempenho de seu auxiliar, que se agigantou, por um lado.
Por outro lado, Mandetta, mesmo sem essa intenção, expôs o presidente como um anão, do ponto de vista moral, intelectual e político-administrativo, e não será demitido, porque os bolsonaristas mais poderosos já perceberam que isso agravaria a situação do próprio presidente, que é delicadíssima. Alimentando o desejo fascista de dar um golpe, para (des)governar com plenos poderes, sem Legislativo e Judiciário, por exemplo, para atrapalharem suas vontades, Bolsonaro se perdeu no meio do caminho, e pode pagar muito caro por isso.
SÉRGIO FONTELE ” SITE PENSAR PIAUÍ” ( BRASIL)
Sérgio Fontenele é jornalista e comentarista político