O impacto maior será sobre a globalização, o fator subjacente à baixa inflação. A pandemia COVID-19 e o medo duradouro da pandemia levará a um fechamento das fronteiras. Do mesmo modo, os crescentes atritos comerciais são uma receita para o retorno das pressões sobre os preços.
Professor da Universidade de Harvard, Kennneth Rogoff foi um dos economistas mais ouvidos na grande crise de 2008. Seu diagnóstico sobre a crise atual é diferente da maioria do sistema.
Ele reconhece que é cedo para prever os desdobramento do surto de coronavírus, mas não é cedo para admitir a próxima recessão global chegando, e de natureza diversa das crises de 2001 e 2008. Lá houve uma recessão de demanda; agora é de oferta, com consequências diversas.
É provável que a recessão emane da China e já esteja em andamento. Há uma queda na produção, decorrente da coronavírus. Por outro lado, a China é uma economia altamente alavancada (isto é, com expansão baseada no endividamento). Por isso mesmo, não pode suportar por muito tempo uma queda na atividade, já que a capacidade de pagamento das pessoas, empresas e municípios dependem do crescimento de suas receitas.
Mesmo sem coronavírus, a China caminhava para um crescimento mais lento devido a um conjunto de fatores: dados demográficos adversos, estreitamento do escopo da recuperação tecnológica e um processo cada vez mais centralizado de tomada de decisão.
Além disso, diz ele, ao contrário das duas recessões globais anteriores deste século, o novo coronavírus, COVID-19, implica um choque de oferta e de demanda. Apenas em meados da década de 70 houve algo similar. Quando dezenas de milhões de pessoas são impedidas de trabalhar, pelo receio do contágio, as cadeias globais de valor quebram, e o comércio mundial diminui.Leia também: Para entender a dança dos efeitos da coronavirus sobre o Brasil, por Luis Nassif
O impacto maior será sobre a globalização, o fator subjacente à baixa inflação. A pandemia COVID-19 e o medo duradouro da pandemia levará a um fechamento das fronteiras. Do mesmo modo, os crescentes atritos comerciais são uma receita para o retorno das pressões sobre os preços. O aumento da inflação poderá inverter a curva de juros e desafiar os formuladores de políticas monetárias e fiscais.
A questão é que a crise apanha o mundo no começo de um processo de recessão. O crescimento global em 2019 foi de 2,9%, perto do nível de 2,5% que delimita o início de uma recessão global.
Para ele, o alivio mais imediato seria os EUA reduzir drasticamente suas tarifas, acalmando os mercados, sincronizando a governabilidade com a China. Não fosse o detalhe – e aí a opinião é minha – de que o presidente de lá é o Bolsonaro daqui, e não consegue pensar além do seu umbigo.
LUIS NASSIF ” JORNAl GGN” ( BRASIL)