PARA ENTENDER A DANÇA DOS EFEITOS DO CORONAVÍRUS SOBRE O BRASIL

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

O governo Bolsonaro terá que enfrentar desafio de gente grande – administrar fuga de dólares e o desaquecimento da economia

A letalidade da coronavirus é uma incógnita. Os efeitos da paralisação atual da economia, uma realidade.

Uma queda no nível de atividade dos países centrais tem as seguintes consequências;

  • Reflexos sobre a formação de estoques.
  • A redução de estoques impacta as cotações de commodities e a rede global de fornecedores.
  • A incerteza em relação à duração da crise paralisa novas compras, deprimindo ainda mais as cotações.
  • A perspectiva de queda duradoura nas cotações afeta o risco nos países altamente dependentes de exportações de commodities, como é o caso do Brasil.
  • No mercado, a redução das cotações de commodities impacta os comprados – os que compraram acreditando na alta e agora têm que pagar a diferença. Cria problemas sistêmicos de liquidez, obrigando os Bancos Centrais a intervirem com redução de taxas e amparo financeiro.
  • A redução adicional das taxas de juros promove alguma recuperação nas cotações de commodities, mas não têm influência relevante na atividade global. Ou seja, a recuperação nas cotações não tem respaldo na economia real.
  • Por outro lado, o medo de crise sistêmica faz com que muitos investidores aceitem adquirir títulos públicos, mesmo com taxas negativas, como garantia contra perdas totais ou parciais.
  • No caso do Brasil, a redução das taxas desvaloriza moedas atreladas ao dólar, beneficia a balança comercial, mas, por outro lado, provoca fugas de investidores.
  • Mas a expectativa de queda nas cotações de commodities, somada à desaceleração nas exportações de manufaturados, provoca um aumento no risco Brasil. Mesmo antes da coronavirus, já havia uma fuga de investimento externo nas bolsas.
  • Esse aumento encarece a tomada de dinheiro no exterior por empresas brasileiras, anulando os efeitos da alta de juros.

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Conclusão dos efeitos sobre o Brasil:

  • Redução ainda maior nas exportações de manufaturados, com reflexos sobre PIB e emprego.
  • Queda no valor das exportações de commodities, pressionando adicionalmente a balança comercial.
  • Continuidade do déficit em transações correntes obrigando, com queima de reservas para segurar o dólar.
  • Em algum momento qualquer do futuro, quando o nível das reservas preocupar, aumento da taxa Selic para segurar a fuga de dólares e impedir uma crise de balanço de pagamentos.
  • O governo Bolsonaro terá que enfrentar desafio de gente grande – administrar fuga de dólares e o desaquecimento da economia – com uma equipe econômica cujo maior efeito foi inventar a versão de que existe um PIB privado desconectado do PIB público.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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