Embora não tenha levado a estatueta de Melhor Documentário, cabe compreender que a simples presença de “Democracia em Vertigem” entre os cinco finalistas do mais importante premio do cinema mundial representa um elemento importante no debate sobre a democracia brasileira, o golpe de 2016 e a ascensão do bolsonarismo em nosso país.
O fato de ter sido incluído entre os cinco melhores do mundo em 2019 sempre será visto como um atestado de qualidade, como ocorre com qualquer obra cinematográfica desde 1929, quando o premio foi instituído em Hollywood.
Isso quer dizer que o selo “finalista do Oscar” pode não ser igual a “vencedor do Oscar” mas seguirá abrindo portas para exibições perante novas parcelas do grande público, dentro e fora do Brasil.
Sempre que houver interesse num debate sobre a situação do país neste início de século XXI o filme de Petra Costa será a primeira opção, quase sempre obrigatória.
Antes mesmo do resultado ser divulgado, o mais respeitado crítico de nosso cinema, o veterano Sérgio Augusto, anunciou: “Petra já venceu”. Estava certo.
“Democracia em Vertigem”só chegou ao tapete vermelho de Hollywood em função de suas qualidades inegáveis como obra produto de cinema.
Trata-se de um feito ainda mais notável porque nem de longe é um filme que integra a categoria de cinema-entretenimento, a mercadoria-padrão da industria cultural que Hollywood se empenha em promover desde a invenção do Oscar, em 1929.
Tampouco pode ser incluído na escola mais recente dos filmes bem comportados e piedosos, quando as telas servem para o grande capitalismo derramar lágrimas de hipocrisia e sentimentalismo perante a má sorte dos deserdados do mundo.
Delicado, personalizado, o filme de Petra Costa apresenta uma crítica direta e documentada à conspiração que derrubou o governo Dilma Rousseff, quebrando 30 anos de democracia na oitava economia do mundo — e aqui reside sua força.
Não é uma obra esquemática nem nostálgica, mas investigativa e corajosa. Possui imagens históricas, diálogos e afirmações que ficarão para sempre. Faz um relato ao vivo, filmando os fatos quando aconteceram — e como aconteceram.
Sem esconder sua opinião, a diretora coloca dúvidas e perguntas, sem fazer concessões às aves de rapina do autoritarismo. Aqui reside sua beleza e sua perenidade.
Alguma dúvida?
PAULO MOREIRA LEITE ” BLOG 247″ ( BRASIL)