A MORTE DE RONALD LEVINSOHON, O EMPRESÁRIO CARIOCA QUE COMPRAVA JORNAIS

Nos anos 80, foi dono da Caderneta de Poupança Delfin, que quebrou em 1983. Tinha um capacidade impressionante de influenciar jornais e pessoas públicas.

Morreu Ronald Levinsohn. Era dono da Univercidade. Nos anos 80, foi dono da Caderneta de Poupança Delfin, que quebrou em 1983. Tinha um capacidade impressionante de influenciar jornais e pessoas públicas.

Em 1986, logo após o Plano Cruzado, denunciei uma manipulação do então consultor geral da República, Saulo Ramos, publicando outro decreto que criava facilidades para empresas em liquidação extrajudicial. Um dos beneficiados seria Levinsohn.

A denúncia gerou um processo de Saulo, instrumentalizando o então Procurador Geral da República Sepúlveda Pertence. A denúncia foi sorteada para um procurador, que opinou pelo arquivamento. Pertence, que contava com Saulo para sua indicação para Ministro do Supremo Tribunal Federal, tirou o procurador do caso e encaminhou para outro procurador, que deu sequência ao processo.

Foi uma luta árdua, no plano jornalístico e jurídico. No inicio da disputa, Saulo negociou com a direção da Folha uma pendência da empresa com o INSS. No início, o jornal passou a criar uma enorme resistência aos meus artigos. Para manter a denúncia, recorri a Mino Carta e, depois, a Julio Mesquita Neto, que abriram espaço nos seus veículos. Minha demissão foi adiada por alguns meses devido ao fato de ter conquistado o Prêmio Esso daquele ano, justamente com as denúncias.

Antes disso, a coluna Dinheiro Vivo era republicada em mais de vinte jornais e o Jornal do Brasil manifestou interesse em republicá-la. Quando percebi que meus dias na Folha estavam contados, acertei com Marcos Sá Correa, diretor de redação, a transferência da coluna para lá. Antes disso, havia recusado um convite da Globo para ser comentarista na TV e levar a coluna para o jornal.Leia também:  Assange, Manning, Snowden, Greenwald e a nova teologia jurídica, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Na véspera da ida ao Rio, para sacramentar o acordo, identifiquei mais uma jogada de Saulo com Levinsohn. Preparei um artigo, que a Folha se recusou a dar, e o enviei ao William Waack, editor de Economia do JB. O artigo foi publicado por lá.

No dia seguinte rumei para o Rio e, antes de falar com o Marcos, o William me chamou e me disse que algo tinha dado errado. O Levinsohn pagava uma mesada ao JB, e ele não sabia disso.

A conversa com o Marcos foi protocolar. Ele disse que o jornal não se interessou mais pela coluna porque, nela, estimulávamos ações judiciais contra abusos do Estado – a coluna foi a principal responsável pela campanha dos mutuários do BNH e dos aposentados contra decisões de governo -, e o carioca não era tão afeito a reações quanto os paulistas.

Saí da Folha pouco tempo, consolidei o programa Dinheiro Vivo na TV Gazeta, lancei uma newsletter que conseguiu boa penetração no mercado. Anos depois, fui convidado a voltar à Folha na condição de colunista diário. Levinsohn e Saulo já eram águas passadas.

Em todos esses momentos, a presença inigualável foi do doutro Rangel Pestana, velho advogado da Folha, que se recusou a acatar as ordens do jornal e abandonar meu caso. Ficou comigo até o fim da ação, mesmo passando parte do tempo hospitalizado.

Levinsohn conseguiu preservar seu patrimônio, graças a essa inexcedível capacidade de cativaar jornais e jornalistas. Entrou na área educacional e, através do seu Univercidade, abrigou o jornalista-filósofo Olavo de Carvalho.Leia também:  Quem são os jornalistas que irão entrevistar Sergio Moro no Roda Viva hoje

Morre prestigiado, amigo de jornalistas, lobistas e celebridades cariocas.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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