
Quem se preocupar em tentar entender os planos do Irã – e não achar que um país com aquele grau de desenvolvimento é apenas um antro de loucos – deveria ler com atenção o discurso do Ministro iraniano das Relações Exteriores, feito hoje em Teerã, num evento com diplomatas árabes.
Mohammad Javad Zarif disse, depois dos elogios fúnebres a Qassem Soleimani, que “recorrer à guerra, considerada uma exceção nas relações internacionais, infelizmente se tornou uma regra e regra na região devido à atitude e conduta dos EUA e de seus seguidores”, mas que “este é um círculo vicioso que deve ser quebrado pelos atores regionais e todos aqueles comprometidos com a paz, a tranquilidade e a estabilidade.”
—O caminho escolhido pelos EUA para si e para a região é caracterizado por insegurança, guerra e derramamento de sangue. Mas o Irã, como a voz unificada que surge do coração de todas as crianças desta terra antiga e orgulhosa, anuncia paz e sossego para a região.
Mesmo prometendo “uma resposta” aos norte-americanos, ao afirmar que ela ocorrerá “no local e no momento em que mais lhes doer” – repetindo as palavras do aiatolá Ali Khamenei – Zarif anunciou que “gostaria de enviar esta mensagem à região, na qualidade de Ministro das Relações Exteriores, de que o Irã continuará a servir como âncora da paz e segurança e também como eixo do desenvolvimento regional. A República Islâmica do Irã adota uma abordagem e política regional proativa e orientada para soluções. Todos os países regionais também devem servir como eixo de solução para vários casos e situações regionais”.
Argumento que os países situados em torno do Estreito de Ormuz – por onde passa perto de 30% do petróleo do mundo – devem abandonar a ilusão de que conseguirão segurança e desenvolvimento “vindos de fora” e que deveriam se unir para usar, sinergicamente, o poder desta região para alcançar um futuro melhor e mais pacífico.
“A segurança não pode ser realizada através de “arremessar pedras na casa do vizinho.” Acreditamos em segurança para todos.”
Sepultados seus mártires, depois que um imenso mar humano firmou sua unidade interna, tudo indica que O Irã está disposto a buscar uma reação que, pelo menos, deixe prejudicada a oposição dos países árabes aliados dos EUA às suas atitudes.
O discurso, na íntegra, está no jornal iraniano (em inglês) Tehran Times e pode ser lido aqui.
Nada, claro, desautoriza esperar alguma reação militar surpresa, até porque a comoção é intensíssima, mas não é isso o que vem indicando Teerã.
FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)