Nem uma palavra do governador Wilson Witzel, de Jair Bolsonaro ou de Sergio Moro.
Nada. Apenas o silêncio cúmplice.
Pedir o mínimo de decência virou uma utopia no país em que um ministro da Educação xinga a mãe de contribuintes de “égua sarnenta”.
O inquérito sobre o assassinato da menina Ágatha, de 8 anos, aponta para o que qualquer brasileiro decente já sabia: o disparo partiu da arma de um PM.
De acordo com o documento, houve um prosaico “erro de execução”.
O objetivo não era atingir a criança, mas um “tiro de advertência” para forçar a parada de dois homens que estavam em uma motocicleta.
O cabo teria tentado atingir os “criminosos”, mas o projétil “ricocheteou” e atingiu Ágatha na Kombi em que ela viajava.
Os policiais inventaram uma troca de tiros, mas foram desmentidos por testemunhas.
Foi pedido o afastamento do soldado da UPP Fazendinha, mas você ganha um pirulito se ele for preso preventivamente. Sua identidade, obviamente, está em sigilo.
Quatro dias após a morte de Ágatha, em 24 de setembro, Witzel deu uma coletiva em que transformou a tragédia em palanque.
“É bom você, que não é dependente químico mas usa maconha e cocaína recreativamente, faça uma reflexão. Porque você é diretamente responsável pela morte da menina Ágatha”, falou.
“Quem usa droga ajudou a apertar esse gatilho”.
Conversa mole vagabunda.
Afetando emoção, a voz embargada, contou que “tem sentimentos”, citou a filha e garantiu: “Nem operação policial havia na hora”.
Ainda soltou a bravata: “A lei é para todos. Ninguém está acima ou abaixo”.
Ágatha é mais uma vítima de uma política de segurança pública genocida, que pode favorecer mais execuções com o pacote anticrime e seus excludentes de ilicitude.
A mãe de Ágatha fez um desabafo depois de ficar ciente do inquérito.
“Não pode ficar assim. Não pode haver mais Ágathas. A gente quer que seja feita justiça”, disse.
Até quando? Até quando?
A pergunta é retórica porque a resposta no Brasil é a mesma há décadas: “até sempre”.
KIKO NOGUEIRA ” DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO” ( BRASIL)