Entrevista a Alfredo Campos Matos, autor de Dicionário de Eça de Queiroz. Nascido na Póvoa de Varzim, tal como o romancista, é aos 91 anos a maior autoridade no escritor. Comenta a reportagem de Eça no Suez, há 150 anos, que será republicada na edição impressa deste sábado.
Eça de Queiroz era licenciado em Direito, Eduardo Coelho, fundador do DN, era tipógrafo e uns dez anos mais velho. Tem ideia como é que estes dois homens se conhecem e fazem amizade, ao ponto de Eça ser repórter ao serviço do jornal na inauguração do canal de Suez em 1869?
O pormenor do encontro do Eça com o Eduardo Coelho não sei objetivamente, mas é muito possível que a primeira pessoa a tomar contacto com o Eduardo Coelho tenha sido o Ramalho [Ortigão], e levou Eça atrás. É uma suposição, não tenho nenhum documento que afirme isso.
Ramalho Ortigão seria o introdutor do jovem Eça aos meios lisboetas?
Exatamente. Tornaram-se muito amigos e o Eça começou a colaborar com o DN juntamente com o Ramalho de uma maneira intensiva, era o principal jornal da época e além disso tinha a sua sede num sítio muito cómodo para ambos, ali no Bairro Alto, onde eles viviam. Portanto, os contactos com o Eduardo Coelho eram facilitados até geograficamente.
Ou seja, é possível imaginar Eça a frequentar a redação do DN na Rua dos Calafates, hoje Rua do Diário de Notícias, numa base quase diária?
Claro. Atenção a uma coisa: aquele mito de que O Mistério da Estrada de Sintra tinha sido escrito alternadamente e em que um enviava textos para o DN e o outro enviava a resposta, isso é um mito porque não se pode fazer isso. Eles preparavam muito bem os textos e iam enviando paulatinamente com os textos já prontos, não era uma troca “olha agora é o Eça e depois o Ramalho vem a seguir e responde”.
Mas os textos publicados eram alternados…
Eram alternados mas com uma distância que permitia a um saber o que é que o outro já tinha para publicar.
Quando Eça vai ao Suez, é uma viagem particular com o seu futuro cunhado. Esse Eça que vai ao Suez e que publica as quatro reportagens no DN é um Eça já escritor ou é um Eça principiante com o sonho de ser jornalista?
É um Eça já maduro, já escritor.
Mas só tem 24 anos…
Pois, pois… não se esqueça de que ele um pouco antes já tinha escrito uma obra-prima do conto português, As Singularidades de Uma Rapariga Loira, em que a gente olha para aquilo e pensa “como é que é possível um tipo com aquela idade escrever uma prosa tão madura”. Essa prosa que escreve sobre o Oriente é uma coisa perfeitamente magistral. Ele é muito precoce.
Isso explica também porque é que aquelas quatro reportagens são intemporais, lidas hoje com grande prazer?
Claro. Repare, o Eça um dia escreveu “a escrita é um dom dos deuses”. Isto é uma coisa magistral porque de facto é uma coisa que sai de cá, a gente não sabe, é uma aptidão, uma jeiteira, digamos assim. Estava a falar da escrita e um dia perguntaram-lhe “eu um dia serei capaz de escrever como você?”, e ele respondeu isso. Porque ele tinha esse dom. Ele começa a escrever com uma maturidade fantástica.
Quando lê essas reportagens da viagem ao Egito, sente-se que é um homem curioso pelo mundo, um homem que gosta de viajar e observar. Recordo-me da descrição que ele faz das personagens egípcias, dos barcos no Suez. Essa capacidade de olhar para o pormenor é uma marca na obra de Eça?
Como ele dizia, de “perfurar a realidade para se aproximar de uma verdade” e sempre em mudança. Uma coisa que confunde muitos críticos são as mudanças súbitas que ele faz. E essas mudanças na via literária é uma coisa que confunde muito os críticos e sempre com esse tal objetivo de perfurar a realidade. Neste ano escrevi um ensaio que me parece a análise mais bem feita que fiz da obra do Eça. É um livrinho pequeno que também não teve saída nenhuma e ninguém conhece, evidentemente, como tudo o que eu faço.
Mas tem muitos admiradores. O historiador João Medina fala muito de si, cheio de elogios, como o grande especialista em Eça.
É um erudito.
E também tem outros admiradores. Carlos Kessel, historiador que foi adido cultural do Brasil e é um apaixonado por Eça, tem por sim enorme admiração.
Já sei, conheço-o muito bem. Ele ainda ontem me falou que quer que vá agora ao Brasil mas não sei se tenho disposição para isso porque a viagem é muito longa.
Estava a dizer que publicou mais esse livro sobre a obra do Eça.
Há uma coisa que descobri n’Os Maias e essa é a grande novidade. Se eu perguntar, a quem conhece bem a obra, qual é o momento fundamental, toda a gente diz que é quando o Carlos da Maia sabe que aquela senhora é a irmã. Não é, longe disso, muito longe disso. Há um episódio fenomenal. São coisas que descobri não por ser mais inteligente do que os outros, atenção. É que de toda a gente que lê Os Maias, sou eu o mais assíduo leitor… se calhar no mundo. Isso não é vaidade nenhuma, sou leitor compulsivo do Eça, pronto. Então descobri esta coisa espantosa. Um dos mais belos episódios que mexe com os nervos das pessoas é a célebre visita que o suposto marido da Maria Eduarda faz ao Carlos da Maia, no Ramalhete. O Carlos da Maia já sabe pela carta anónima que o Castro Gomes quer visitá-lo e prepara-se para o receber, e recebe-o. Aquele episódio é uma maravilha. Castro Gomes vem e diz “não venho desafiá-lo, está muito enganado. Aquela mulher que trouxe a Lisboa é uma mulher que eu pago”. Carlos da Maia fica para morrer, aquilo é uma bofetada. “Se eu quisesse vir aqui para o desafiar mandava as minhas testemunhas. Não, eu venho aqui simplesmente para lhe dizer que ela não é minha mulher, sequer. Ela hospedou-se no hotel e deixei-a usar o meu nome mas é uma mulher que eu pago e encontrei em Londres”, como quem diz é uma putéfia, uma prostituta. Carlos da Maia recebe uma pancada enorme e quando ele sai fica completamente abalado e faz esta reflexão e é a maior importância que se pode atribuir a Os Maias. Ele começa a refletir que tudo aquilo que ele imaginou da Maria Eduarda foi uma névoa romântica que se lhe atravessou diante dos olhos e que o fez ver na Maria Eduarda uma realidade que não correspondia à verdade da Maria Eduarda. Esta reflexão, para mim, é o que há de mais importante no romance. E depois se a gente vir a obra do Eça vamos começar a ver que esta névoa que se atravessa nos olhos das pessoas começa a aparecer em vários livros. Repare n’A Relíquia, o Raposão quando vai para o Oriente anda atrás das mulherinhas e começa a imaginar uma prostituta, uma beldade com o véu e quando tira o véu da senhora ela tem os dentes podres. A realidade é completamente diferente. Perante o Raposão tinha-se desenvolvido a tal névoa, a tal neblina. Se formos ver A Capital, um dos grandes romances do Eça, que toda a gente não leu, que ele deixou intacto para publicar e ainda não entendo porque é que ninguém publicou. O Artur é a mesma coisa: vê uma senhora de vestido de xadrez na rua e começa a imaginar que é uma deusa e, quando a persegue e vai ter com ela para a ver mais de perto, repara que é uma senhora completamente abominável.
Aí é um Eça um bocadinho mauzinho, não é?
Sim, claro.
Eça tem um fascínio pelo Oriente…
É um fascínio de época.
Mas a primeira viagem que faz é esta ao Egito e depois à Terra Santa. Ele não é ainda um homem viajado quando faz estas reportagens…
De maneira nenhuma, é a primeira viagem que ele faz.
É preciso ter muitos meios financeiros para fazer uma viagem destas naquela época.
Não se esqueça de que o Gaspar Simões é um fantasista e inventou muitas coisas sobre o Eça. O Gaspar Simões diz que ele foi com o dinheiro do cunhado mas não foi nada. Ele ganhou muito dinheiro com o jornal Distrito de Évora. Ele é muito bem pago e logo a seguir dá-se a viagem. O Gaspar Simões não sabia que a família Resende, que tinha propriedades enormes, uma riqueza, não tinha um tostão.
Quem tinha o dinheiro para a viagem era o Eça?
Se calhar ainda foi ele que emprestou dinheiro ao cunhado. Eles tinham uma riqueza fabulosa mas naquela altura quem tinha muita terra não queria dizer que tivesse dinheiro. Eles não tinham, na realidade, e o Eça enganou-se muito quando, ao casar-se com a D. Emília, que tinha uma património muito grande, julgava que ela tinha dinheiro mas não tinha nenhum, tinha dívidas.
Esta viagem ao Suez é importante para a escrita do Eça evoluir? É importante para a forma de ele ver o mundo?
É aí que se dá a grande viragem do Eça fantasista para o Eça observador da realidade. A realidade geográfica, nova, que ele vê avidamente… ele vê o Egito avidamente e já com conhecimento teórico, faz uma revolução na escrita dele.
Eça não é excessivamente condescendente. Ou seja, é o olhar de um europeu perante um mundo diferente mas parece-me que tem um certo nível de respeito pela cultura dos outros. Há uma cena a entrar para o comboio em que ele descreve que estavam todos apertados mas dá-me a sensação de que ele tem um olhar suficientemente justo perante a outra sociedade. Sente isso?
Evidentemente. Era um homem com uma inteligência rara. O professor Magalhães Vilhena, de quem tive o privilégio de ser amigo e com quem conversei muito, falava muito sobre o Eça e ele muitas vezes terminava a conversa dizendo “o Eça é o homem mais inteligente do século XIX, não é?”. Pois evidentemente que sim. Isso ajuda muito a escrita dele, mas atenção, subtil, dissimulado, é preciso lê-lo com cuidado e conhecimento de causa senão uma pessoa pode espalhar-se.
Esta viagem ocorre e depois há o episódio da publicação também no DN de O Mistério da Estrada de Sintra. De onde é que vem esta ideia? Como é que surge este folhetim?
Objetivamente não posso dizer de onde vem a inspiração mas suspeita-se de que a inspiração começa mesmo com o Eça.
Um Eça que percebe a potencialidade de usar um jornal para uma construção ficcionada?
Ele era extremamente hábil. E dissimulado também. Ele não abre o jogo. Às vezes serve-se de um livro que leu mas não refere quem é o autor e esconde as suas origens. Mas isso fazem todos os escritores…
É possível que ele se tenha inspirado em alguém, ou até em algo feito noutro país?
É muito possível porque era um leitor extremamente agudo, que apanhava rapidamente a essência das coisas num livro. Faz-me lembrar o João Medina, que é um grande ensaísta queirosiano e que também tem uma capacidade de leitura inacreditável… O Eça fazia isso e transformava essa matéria em matéria própria.
Qual é a necessidade de Eça em O Mistério da Estrada de Sintra ter Ramalho Ortigão? Ele podia ter feito aquele folhetim sozinho. Agora sabemos que era um que ia respondendo ao outro mas a verdade é que para o sucesso do folhetim isso não era necessário. Eça e Ramalho juntos porquê?
Porque eram muito amigos, fizeram uma parceria muito grande quando o Ramalho veio para Lisboa. O Eça era sempre muito ocupado com a escrita, dava-lhe jeito ter como companheiro, até do ponto de vista prático, para ter tempo para outras coisas. Não vai acreditar que o Eça estava escrever O Mistério da Estrada de Sintra sem pensar em mais nada. Já estava a escrever O Crime do Padre Amaro, por exemplo, dava-lhe jeito ter o Ramalho como companheiro de lide.
Além de grande escritor, Eça é também um homem prático?
Eminentemente prático e eminentemente ingénuo. Estando sempre a tinir em Paris, na última fase da sua existência, ainda pensou na obra completa, que nunca chegou a fazer. Tinha na gaveta uma fortuna de textos inéditos.
Percebe porque é que ele não publicou esses textos?
Não se percebe. Um romance como A Capital, completamente acabado, que valia uma quantia enorme de dinheiro. Então andava a perder tempo… uma inteligência rara e um sentido prático completamente negativo. Andava a perder tempo e a gastar dinheiro, ele que não tinha dinheiro nenhum, com um inventor. Com o Serra, em Paris, inventor que queria fazer uma roda para a Exposição de Paris, em 1900. E ele ajudava imenso. Recomendava o Serra ao conde de Arnoso, para arranjar trabalho para ele junto do rei D. Carlos, e avançava-lhe dinheiro, que é uma coisa extraordinária. É uma volta que nos deixa completamente espantados. Uma inteligência rara e uma ingenuidade rara também.
Eça, que entretanto acaba por se tornar diplomata, não publica mas continua a escrever. Tem outra colaboração com o DN que são As Cartas de Inglaterra, que mostram uma capacidade de observação e análise da política internacional.
Formidável. Textos perfeitamente atuais.
Mas aí, mais uma vez, confunde-se o romancista com o possível jornalista. Quando ele faz essas cartas, está novamente a aproximar-se mais do repórter, do analista. É normal naquela época os intelectuais não terem uma divisão clara do que é que são? Um intelectual escrever romances mas também escrever em jornais é algo habitual?
Perfeitamente habitual. O Flaubert fazia isso, o Zola também, tinha uma série de colaborações com jornais da época, e o Eça segue naturalmente essa vocação, até por necessidade de ganhar dinheiro porque os jornais sempre lhe iam dando algum dinheiro.
Era importante, além do salário de diplomata, o que ele receberia do DN?
Claro. Ele recebia muito pouco e tinha despesas muito grandes porque gostava de fazer uma vida com um nível que ele não tinha de maneira nenhuma. Em Paris em vez de alugar um andar, como seria natural, alugou uma casa com jardim para dar mais conforto aos filhos. E isso custava muito caro. E chega a ter uma quantidade de empregados. E é muito curioso porque as pessoas – isto vem do Gaspar Simões – diziam que era a D. Emília a gastadora. E coitada dela, que tinha despesas triviais. Ela vivia num aperto enorme. Uma vez fiz uma antologia das queixas económicas dela, as frases todas dela, e aquilo dá duas páginas pungentes de ela queixar-se de não ter dinheiro para ir comprar um quilo de carne ao talho.
Foi importante para a notoriedade do Eça esse aparecimento nos jornais ou isso é uma parte menor, pois a obra literária garantiria sempre que, mais cedo ou mais tarde, seria um nome conhecido?
Completamente, isso contribuiu enormemente porque depois de Os Maias ele não publica mais nada, não faz mais nenhuma publicação em livro, mas continua a ser uma figura reconhecida, desde muito cedo. A fama dele é grande.
Essa fama é importante para que depois a sua obra postumamente seja publicada?
Exatamente. Obra essa que não teve sucesso nenhum de imediato, devo dizer, porque as pessoas desconfiavam dessa prosa que era mexida pelo filho. O filho era um imitador da prosa do pai formidável. É um homem que é muito atacado hoje por certos eruditos. Falo do José Maria, que foi quem publicou a obra póstuma do pai.
Teve essa tentação de intervir na obra do pai genial?
Imitava perfeitamente a caligrafia do pai. E mais: é muito importante no José Maria a decifração dos textos do pai.
Em termos da própria caligrafia?
Pois. O Mistério da Estrada de Sintra, que estudei com o João Medina muito de perto, publicámos a primeira edição e agora a última, que é um texto já muito apurado, e nós não nos metíamos naquilo de modo algum sem a cábula de José Maria. Ele tinha uma cábula datilografada, incompleta, e que nos induziu em vários erros, mas sem a qual não podíamos penetrar em várias zonas. Havia muitos capítulos por rever com uma escrita criativa… sabe o que é a escrita do Eça no século XIX… que não está fixada. Há dois tt, um só t, cortava os t nos l, transformava os l em i. A cábula foi um elemento precioso que recebemos da Fundação Eça de Queiroz. Agora na última revisão que fiz para uma edição dos Livros do Brasil, curiosamente os Livros do Brasil publicaram a segunda edição e depois começaram a polémica connosco. Mas foram eles no fim, já com outras mãos, que nos pediram para fazer a revisão definitiva de A Tragédia da Rua das Flores. O José Maria era um homem com qualidades fantásticas. Como filho do Eça, como intelectual e herdeiro dos papéis dele, quem é que resiste à tentação de mexer com toda a autoridade na prosa do pai? Ninguém resiste a isso. A própria irmã disse que nunca mexeria e mexeu.
Do que lemos hoje do Eça, quase de certeza que há pequenas coisas que não são dele e que são impossíveis de detetar?
Claro. O próprio Ramalho outorgava-se como autorizado a mexer na prosa do Eça. É uma coisa muito subtil. O filho, que era um hábil imitador da prosa do pai, muitas vezes piora coisas de somenos importância… o estilo é uma coisa muito delicada. O que estava da prosa do pai era melhor do que ele corrigiu.
Textos como as crónicas do Suez e O Mistério da Estrada de Sintra, Eça depois trabalha-as posteriormente para uma versão mais definitiva. É muito diferente? Quem for ler o que ele escreveu sobre o Suez no DN e quem for ler depois sobre o Egito…
Penso que não. O Eça era um indivíduo obcecado com o aperfeiçoamento dos seus textos, daí as edições sucessivas de O Crime do Padre Amaro. Sempre preocupadíssimo. Ele queria reescrever O Primo Basílio, não chegou a fazê-lo.
Estes textos que conhecemos publicados no DN existem depois numa versão mais trabalhada?
Exato.
Nas Cartas de Inglaterra tem ideia se isso também aconteceu?
Não tenho ideia.
Para quem faz a história do Eça de Queiroz, para quem fez a biografia e o Dicionário de Eça de Queiroz, o DN e o Eduardo Coelho são figuras que fazem parte da vida deste homem?
Parte integrante e parte muito importante.
Não é o DN, apesar dos seus 155 anos, que se está a pôr em bicos de pés quando diz que faz parte da história de Eça e que Eça faz parte da história do DN?
Isso é uma coisa indiscutível, basta estudar as relações do DN e o Eduardo Coelho com a vida literária do Eça e verifica-se que é de uma importância muito grande.
Eduardo Coelho, que defendia uma escrita simples, poderá ter influenciado de alguma forma o estilo do Eça?
Isso não acredito. O Eça era muito independente, não mostrava uma linha à mulher. Uma coisa que me surpreende é a perfeição do estilo da obra dele – quem escreve sabe que é uma coisa muito difícil e aperfeiçoar como o Eça aperfeiçoava a sua escrita sem mostrar a ninguém. Ele escrevia sozinho. Eu, por exemplo, não escrevo uma linha sem mostrar à minha mulher, que me vem corrigir coisas porque eu escrevo muito depressa. Mas ele não mostrava coisa nenhuma à mulher. Tinha um revisor muito bom no Porto, mas isso não chega para aperfeiçoar a escrita. As coisas já saíam da pena dele profundamente apuradas.
Pode dizer-se isso dos textos que escreveu aos 24 anos? Não é um aprendiz de Eça, já é Eça?
Há textos dele com vinte e tal anos em que ficamos surpreendidos. É aquela vocação que atinge certos indivíduos. Quanto mais se lê o Eça mais nos espantamos com a categoria daqueles escritos.
LEONÍDIO PAULO FERREIRA ” DIÁRIO DE NOTÍCIAS” ( PORTUGAL)