ENTENDA A NOVELA DA REPORTAGEM DA GLOBO SOBRE O PORTEIRO

Vamos tentar entender o episódio do porteiro do condomínio Vivendas da Barra, a partir da nota divulgada por Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo.

O ponto de partida – Dia 1° de outubro, quando a editoria teve acesso a uma página do livro de ocorrências do condomínio em que mora Ronnie Lessa, o acusado de matar Marielle. Ali, estava anotado que, para entrar no condomínio, o comparsa dele, Elcio Queiroz, dissera estar indo para a casa 58, residência do então deputado Jair Bolsonaro. Nada foi feito então, corretamente, aliás, porque as informações ainda eram insuficientes..

Investigações iniciais – as primeiras investigações comprovaram que o porteiro deu dois depoimentos sustentando que ligara para Bolsonaro. E apuraram também que naquele dia Bolsonaro estava em Brasilia, em sessão da Câmara. Uma investigação meticulosa teria procurado ouvir o porteiro, os colegas do porteiro e saber do sistema de interfones do condomínio, que permite transferência de chamadas para celulares.

O caso no STF – segundo Kamel, uma “fonte absolutamente próxima à família” informou que o caso estava no Supremo Tribunal Federal (STF). “Absolutamente próxima” poderia ser Gustavo Bebiano, o homem do PSL, que era tão próximo a ponto de ter sido advogado de Bolsonaro, mas que havia rompido com ele. Mas poderia ser alguém do STF. De qualquer modo, tinha suficiente credibilidade junto a Kamel. Há uma observação importante de Kamel: “É importante frisar que nenhuma de nossas fontes vislumbrava a hipótese de o telefonema não ter sido dado para a casa 58. A dúvida era somente sobre quem atendeu e só seria solucionada após a decisão do STF e depois de uma perícia longa e demorada em um arquivo com mais de um ano de registros”.


A armação – aí ocorreu a jogada. A Globo informa os Bolsonaro da matéria, para ouvir sua versão. Segundo a nota de Kamel, advogado escondeu o fato de que havia gravações supostamente desmentindo o porteiro. Sai a matéria e a reação dos Bolsonaro é fulminante. De madrugada, o ataque de Jair; de manhã, o vídeo de Carlos Bolsonaro. No dia seguinte, a falsa perícia providenciada pelas promotoras do GAECO (Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado), quase colocando a perder as investigações.

É evidente que Carluxo já estava preparado para o contra-ataque, manipulando um sistema de gravação que fricou meses à disposição dos suspeitos, devido à pouca vontade das promotoras do GAECO de requisitá-lo como prova.

Aí, o delegado da Polícia Civil, que Bolsonaro chamou de “amiguinho de Witzel”, deu o troco. Pegou o vídeo de Carluxo, deve ter submetido a uma perícia mais honesta que a do GAECO e constatou que a voz do porteiro não era a mesma do porteiro original, que autorizou a entrada do motorista do crime no condomínio. Com isso, salvou a Globo.

O próximo passo será periciar o sistema de telefonia do condomínio, e constatar que permite transferência de ligações para celulares. E encontrar o arquivo que comprovaria a ligação para o celular de Jair Bolsonaro.

Os desdobramentos criam uma situação incômoda para o Ministro da Justiça Sérgio Moro e para o procurador Geral da República Augusto Aras: se não entrarem no caso, mais tarde poderão ser denunciados por prevaricação.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *