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O jogo tava jogado. O governo e alguns partidos faziam apenas jogo de cena. A derrota de Moro na comissão mista seria ratificada a toque de caixa pelo plenário da Câmara, em um drible nas redes sociais. Por um imprevisto, deu errado.Por Andrei Meireles -maio 10, 2019, 7:03
Quem é do ramo amarra todas as pontas antes do xeque mate no tabuleiro político. A vitória ainda é mais certa quando, por uma razão ou outra, parte da linha de defesa adversária entrega os pontos. Esse foi o roteiro para uma exemplar demonstração de força — inspirada e articulada por caciques políticos e ministros do STF — contra Sérgio Moro e a Lava Jato no Congresso Nacional.
Além de todas as costuras, que tiveram o aval de Dias Tofolli e Rodrigo Maia, a surpresa e a rapidez na execução das manobras eram as garantias de seu sucesso. Seu lance mais ousado no Congresso foi tirar o Coaf de Moro, mesmo sem maiores efeitos práticos, mas com a marca de sua primeira grande derrota política no parlamento. Outras viriam na esteira. Jogaram pesado em um campo de batalha limitado, a comissão mista da MP da reforma administrativa. Trocaram integrantes, ameaçaram e negociaram com o governo, e transformaram a derrota de Sérgio Moro na questão do Coaf em relevante questão política.
Até deu certo na comissão mista. Ganharam com folga entre os deputados e perderam na votação dos senadores. O sucesso dessa estratégia ratificar na sequência no plenário da Câmara antes que as redes sociais, mobilizadas pelos partidários da Lava Jato e de outras investigações sobre corrupção, entrassem em campo e pressionassem os deputados.
Por mais que Sérgio Moro chiasse, o governo lavou as mãos. Fez mais. O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, a pretexto de salvar a reforma administrativa, telefonou para os líderes governistas e pediu que ratificassem sem nenhuma discussão em plenário as mudanças feitas pela comissão mista.
Virou jogo jogado. Quem quisesse reclamar que o fizesse no Senado, onde seria pegar ou largar uma reforma essencial para o funcionamento do governo. Tudo certo e combinado, apareceu o imprevisto. Uma questão de ordem levantada pelo deputado Diego Garcia, mais conhecido por sua militância católica, desarmou toda a jogada. Ele questionou uma regra regimental elementar — tem fila na tramitação das medidas provisórias.
Rodrigo Maia, certo de que não seria contestado, afinal Miro Teixeira não está mais lá, se sentou a vontade para furar a fila. Além de apontar essa ilegalidade, ao dizer que isso era desleal com os deputados Diego Garcia meteu o dedo em outra ferida de Rodrigo Maia, o jogo múltiplo que ele vem fazendo nos bastidores do poder em Brasília. Foi o suficiente para Rodrigo Maia explodir:
— Vossa Excelência não tem o direito de me chamar desleal, porque eu nunca fui desleal com esta Casa. Vossa Excelência acabou de derrubar a Medida Provisória 870. Eu vou ler todas as medidas provisórias e todas serão votadas antes da 870. Vossa Excelência está tirando o Coaf de Moro na tarde de hoje.
Quem ouviu Maia na presidência da Câmara — e o complemento em entrevista a imprensa na qual insinua que o Coaf poderia voltar a Moro em uma votação separada –, só acredita se fechar os olhos para suas intensas articulações nos últimos dois meses. Desde março, como várias vezes contei aqui, Rodrigo Maia e Dias Tofolli lideram nos bastidores um movimento para cortar as asas de um suposto projeto da Lava Jato, que teria o aval de Moro, para dominar os poderes da República.
Com inquérito sobre fake news, censura à imprensa, entre outras medidas, Tofolli tem feito sua parte no STF. Rodrigo Maia agora está pondo seu time em campo. Seus aliados dizem que vão vencer com a mesma facilidade na terça-feira. Eles consideram as articulações dos caciques políticos nos bastidores dos poderes em Brasília, inclusive no Palácio do Planalto, mais fortes do que qualquer reação das redes sociais em defesa da Lava Jato.
A conferir.
ANDREI MEIRELES ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)